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Evangélicos no Brasil: Perfil socioeconômico, afinidades ideológicas e determinantes do comportamento eleitoral (Parte II)

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Mensagem  "Ekklésia Christiana" Seg maio 21, 2012 11:30 am





Evangélicos no Brasil:

Perfil socioeconômico, afinidades ideológicas e determinantes do comportamento eleitoral



Simone R. Bohn


(Programa de Pós-Doutoramento em Ciência Política da Universidade de São Paulo)


(Parte II)



Valores e opiniões

O tradicionalismo pode ou não se traduzir em conservadorismo político. Ou seja, posturas tradicionalistas atinentes à moral social – como, por exemplo, a oposição ao aborto e ao homossexualismo – nem sempre são acompanhadas por posições políticas conservadoras. A relação inversa também procede: nem sempre o alinhamento em torno de uma plataforma conservadora no plano político está associado à defesa de bandeiras tradicionalistas a respeito do código moral que deve guiar os indivíduos em sociedade26.

De acordo com Pierucci (1989), a novidade representada pelo segmento evangélico seria a junção de ambas as dimensões. As denominações evangélicas, segundo esse autor, formam parte da base social da "nova direita", já que adicionam valores tradicionalistas referentes à família e à sexualidade aos pilares usualmente associados a posições direitistas, tais como a defesa do direito de propriedade, a resistência em relação à reforma agrária e à ampliação da intervenção do estado na economia.

O propósito dessa seção é ratificar a pertinência desse diagnóstico. Com esse objetivo, analisamos o posicionamento dos evangélicos em comparação com os outros grupos religiosos, no que se refere a tópicos relativos à moralidade social, como o aborto e o homossexualismo. Em seguida, apresentamos sua posição face a uma forma coletiva de protesto: as greves contra o governo. Ao final da seção, descrevemos seu posicionamento no que tange à participação do Estado na economia.

A temática do aborto revela dados interessantes muito mais a respeito da sociedade brasileira em geral do que sobre os evangélicos especificamente (Gráfico 9)27. A maior porcentagem de pessoas que aprovam a realização de práticas abortivas em qualquer situação encontra-se entre os indivíduos sem vínculos religiosos e é de apenas 16.9%. Isso significa, portanto, que, em todos os grupos aqui listados, mais de 80% se revelam favoráveis ou à proibição total ou parcial do aborto. Os evangélicos são os mais tradicionalistas a esse respeito: entre eles encontra-se a maior proporção de pessoas contrárias ao aborto em qualquer situação (46.7%). Entre os demais grupos religiosos, a maioria defende a limitação do aborto aos casos de gravidez indesejada decorrentes de violência sexual. Entre os católicos, essa maioria é de 49.3%; kardecistas, 62.7%; e adeptos do candomblé e umbanda 68.2%. Portanto, os evangélicos, de fato, são os mais tradicionalistas no que diz respeito a esse tema, mas é fundamental perceber, no entanto, que a postura anti-aborto é comum a todos os segmentos religiosos.

Perguntados sobre sua visão acerca do homossexualismo masculino, os entrevistados tiveram que escolher três tipos de respostas: a) as pessoas são livres para determinar seu comportamento sexual; b) o homossexualismo é uma escolha de indivíduos que desrespeitam a moral social ("são pessoas sem vergonha"), ou c) os homossexuais são pessoas doentes. Como pode ser visto no Gráfico 1028, esse é um tópico que claramente distingue os evangélicos dos demais grupos religiosos. Os membros das religiões evangélicas têm uma atitude francamente negativa: cerca de 84.3% consideram o homossexualismo imoral ou doentio. Enquanto, entre os evangélicos, 15.7% consideram que as pessoas são livres para realizar suas escolhas sexuais, esse percentual praticamente dobra entre os católicos (31.0%). As pessoas sem vínculos religiosos formam o grupo menos negativo a respeito do tema: 59.3% deles crêem que a opção sexual é livre e não associam o homossexualismo à imoralidade ou a qualquer doença.

Internamente ao grupo, evangélicos pentecostais e não-pentecostais são indistingüíveis no que se refere à questão homossexual (Tabela 11). Todos, em sua maioria, reagem negativamente: mais de 74% deles consideram o homossexualismo uma imoralidade ou uma doença, a única exceção são os membros da Igreja Universal do Reino de Deus: cerca de 45.4% dos seus fiéis consideram que a liberdade individual rege a escolha e o comportamento sexuais.



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Essas mesmas tendências repetem-se quando o tema da escolha sexual é abordado com enfoque na regulação do espaço público. Os entrevistados manifestaram-se contra ou a favor a veiculação hipotética de um programa de televisão que defendesse o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Consoante com sua visão marcadamente negativa a respeito do homossexualismo, os evangélicos se mostraram, em sua maioria (79.1%), favoráveis à proibição do referido programa (Gráfico 11)29. Entre os católicos essa proporção foi de 63.4%. Mais uma vez não há diferenças significativas entre pentecostais e não-pentecostais30. Em relação aos demais grupos religiosos, surgem alguns pontos interessantes. Segmentos que não têm, em sua maioria, uma visão negativa da homossexualidade, acham, no entanto, que sua divulgação ou debate na televisão devem ser contidos. Assim, apesar de cerca de 59% das pessoas sem vínculos religiosos considerarem a escolha sexual como objeto da liberdade individual, 52.2% delas mostraram-se dispostos a proibir a veiculação do programa. Entre os adeptos do candomblé e umbanda, o mesmo ocorre: 50% deles não vêem o homossexualismo negativamente, mas 68.2% deles são contrários à divulgação do programa.

Se as posições frente ao aborto e ao homossexualismo servem como termômetros da postura dos evangélicos no campo da moral social, utilizamos a opinião em relação às greves contra o governo como indicador de sua visão diante de formas coletivas de protesto social e político. Nesse aspecto, evangélicos e católicos têm perfis significativamente parecidos (Gráfico 12)31. Os membros das diversas denominações evangélicas são ligeiramente mais conservadores que os católicos: 39.3% deles são favoráveis à proibição total de greves contra o governo – entre os católicos, a porcentagem é de 33.3%. O posicionamento desses dois grupos contrasta bastante com a opinião dos adeptos das religiões afro-brasileiras que, em sua maioria (81.8%), consideram que as greves contra o governo devem ser sempre permitidas ou permitidas na maioria das vezes. Entre eles, os opositores à qualquer tipo de greve contra o governo são apenas 4.5%. É interessante, no entanto, lembrar que, embora tenham opiniões quase que antagônicas a respeito de greves contra o governo, os três grupos possuem um perfil educacional consideravelmente semelhante. Cerca de 72.7% dos fiéis do candomblé e da umbanda concluíram o ensino fundamental. Entre os evangélicos e católicos, essa proporção é de 75.0% e 74.4%, respectivamente. Isso significa que, se os evangélicos são mais tradicionalistas (ou ligeiramente mais tradicionalistas) no que se refere à moral, eles são bastante parecidos com os católicos em relação ao seu grau de tolerância para com formas coletivas de protesto social e político,indicando que suas posturas tradicionalistas vêm acompanhadas por um maior conservadorismo político.

O maior tradicionalismo dos evangélicos se traduz em posições mais conservadoras no que se refere à participação do Estado na economia? A direita está historicamente ligada à defesa do direito de propriedade e da iniciativa privada, ao passo que posições esquerdistas estão associadas à manutenção do controle estatal de grande número de atividades econômicas e sociais32. Qual é a percepção do segmento evangélico em relação à presença da iniciativa privada em setores tais como saúde, aposentadoria e previdência social, e educação? Com base no seu perfil, é possível posicioná-los inequivocamente numa escala esquerda-direita?

Os dados da Tabela 12 revelam uma maioria supra-religiosa favorável à presença do Estado nas atividades de educação, saúde e aposentadoria e previdência social. Os evangélicos são o segmento que mais defende a presença da iniciativa privada no setor educacional – muito provavelmente para garantir o funcionamento de escolas privadas religiosas –; mas mesmo assim, entre eles, cerca de 72.4% se mostram favoráveis à participação exclusiva do Estado nessa atividade. Em relação ao setor da saúde, não são os evangélicos, mas os kardecistas os mais favoráveis à atuação da iniciativa privada. No que se refere à aposentadoria e previdência social, por fim, os adeptos das religiões afro-brasileiras invertem sua posição em relação à educação e saúde e se revelam os maiores defensores da iniciativa privada.



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A existência de uma maioria de mais três quintos em cada grupo que se posiciona favoravelmente à participação estatal exclusiva revela que a variável religião não tem muito poder explicativo no que tange ao posicionamento numa escala estatismo vs. defesa da iniciativa privada. Apesar dessa indiferenciação, duas nuances são visíveis: os membros do kardecismo se revelaram quase que sistematicamente os mais favoráveis à presença da iniciativa privada, e os católicos os mais favoráveis à exclusividade estatal nas três atividades mencionadas. O perfil dos evangélicos, nesse sentido, não é muito claro: ou seja, seu posicionamento frente a esses três importantes tópicos não nos permite situá-los quer claramente à direita ou à esquerda.

Quando observamos a posição dos evangélicos em relação à presença da iniciativa privada no setor bancário, a análise se complica ainda mais, uma vez que esse segmento é, ao lado dos fiéis da Igreja Católica, um dos maiores defensores do exclusivismo estatal. Como esse grupo se posiciona em relação ao controle estatal de algumas atividades econômicas mais ligadas à vida cotidiana dos cidadãos brasileiros, tais como os transportes, o recolhimento do lixo e a administração de estradas e rodovias?

Em todos os grupos examinados, mais uma vez há uma maioria favorável ao controle estatal exclusivo das atividades listadas (Tabela 13). É interessante notar que, em todos os grupos, a preferência pela participação exclusiva do Estado cresce quando passamos da atividade de transportes para a coleta de lixo e, em seguida, para a administração de estradas e rodovias, dado que esses serviços compõem áreas em que a presença do Estado é percebida como crescentemente mais importante.



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Os evangélicos não se distinguem dos demais grupos nem por um eventual elevado nível de estado-centrismo, nem pela defesa obstinada do controle exclusivo da iniciativa privada. Os católicos, por outro lado, aparecem como defensores mais árduos da presença exclusiva do Estado do que os evangélicos. Em todas as atividades, além disso, os menos favoráveis ao exclusivismo estatal são encontradas entre os kardecistas. Assim sendo, se a defesa da diminuição da participação do Estado na economia é uma das teses direitistas, então é bastante problemático vincular os evangélicos à direita do espectro político.

No interior das denominações evangélicas, os não-pentecostais claramente se diferenciam dos pentecostais no que se refere ao transporte (Tabela 14). Entre os batistas, por exemplo, apenas 31.2% consideram que essa atividade deva ser realizada exclusivamente pelo Estado, ao passo que entre os pentecostais essa porcentagem é significativamente maior: 59.2%, Assembléia; 66.7%, Congregação; 65.4%, Universal; e 61.2%, outras denominações pentecostais. No que tange às outras duas atividades, no entanto, há uma maioria pró-exclusivismo estatal. O destaque recai sobre a Igreja Universal do Reino de Deus: um pouco mais de um terço dos seus membros consideram que somente a iniciativa privada deveria ser responsável pela coleta de lixo (38.5%) e pela administração de estradas e rodovias (34.6%).



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O tema da intervenção direta do Estado no funcionamento global da economia foi tratado a partir do exame de duas questões. A primeira diz respeito à violação da relação entre demanda e oferta como determinante dos valores finais das mercadorias e examina a concordância do entrevistado em relação ao controle de preços por parte do Estado (Tabela 15). Uma maioria – supra-religiosa – se forma na defesa da intervenção estatal na política de preços. Os evangélicos são os que mais concordam com uma política dessa natureza (80.3%), ao passo que a maior discordância advém dos adeptos das religiões afro-brasileiras (36.4%). É desnecessário enfatizar a similaridade dos perfis educacionais desses dois grupos.



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A maioria em favor da intervenção do Estado é ainda mais pronunciada no que se refere a um segundo tópico: o socorro financeiro a empresas em dificuldades. Mais de 70% dos membros de todos os grupos se mostram favorável a este tipo de ajuda estatal. Os evangélicos são os mais entusiastas em relação ao tema, seguidos de perto, uma vez mais, pelos católicos. Os adeptos do candomblé e umbanda são os menos favoráveis a esse tipo de iniciativa.

O que os dados dessa seção indicam? Em primeiro lugar, conforme afirma a literatura, os fiéis evangélicos são realmente mais tradicionalistas: isto é, se revelam como defensores mais árduos da moral social e da aplicação estrita dos valores desse código na regulação da vida coletiva. Por outro lado, esse tradicionalismo não se traduz diretamente num conservadorismo político: seu grau de oposição em relação a greves contra o governo é similar ao encontrado entre os católicos. Seu posicionamento frente a tópicos relativos à participação da iniciativa privada e à intervenção direta do Estado no funcionamento da economia mostra, além disso, que os evangélicos não podem ser categorizados inequivocamente como pertencendo a um dos pólos do eixo esquerda-direita.

Essa categorização pode ser feita quando examinamos as escolhas eleitorais e partidárias feitas pelos evangélicos? Este é o tema da próxima seção.



Alguns determinantes do comportamento eleitoral do público evangélico


Quais são os principais determinantes do comportamento eleitoral dos evangélicos? Quais têm sido suas escolhas eleitorais e partidárias?

Perguntados acerca do seu voto no primeiro turno na eleição presidencial de 2002, a maioria dos evangélicos (51.3%) afirmou ter votado em Anthony Garotinho (Gráfico 13)33. Cerca de 31.4% votaram em Luiz Ignácio Lula da Silva; 12.3% em José Serra e 3.4% em Ciro Gomes. É curioso notar que a segunda maior votação declarada de Garotinho aparece entre os kardecistas – grupo que, como vimos, possui, ao contrário dos evangélicos, os maiores níveis de renda e escolaridade. Entre os católicos e as pessoas sem religião, cerca de 56% optaram pela candidatura Lula. Essa escolha foi massiva entre os fiéis do candomblé e da umbanda: 83.3% deles votaram no candidato do PT.

A idéia de que a filiação evangélica tende a gerar preferências por determinadas opções políticas não pode ser completamente rejeitada quando observamos o padrão de voto declarado no interior do segmento evangélico. A preferência pela candidatura de Anthony Garotinho perpassou todas as denominações evangélicas, com exceção dos membros da Congregação Cristã no Brasil (Tabela 16). Entre os membros dessa última confissão, Garotinho foi a terceira opção (16.0%) atrás de Lula (56.0%) e de Serra (24.0%)34. Os maiores apoiadores dessa candidatura, por outro lado, foram os fiéis da Assembléia de Deus: seis em cada dez votaram no candidato que pertencia ao PSB. No padrão de voto declarado não há diferenças significativas entre pentecostais e não-pentecostais, assim como não existe homogeneidade de comportamento no interior desses dois grupos.



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No que se refere ao segundo turno da eleição presidencial de 2002, católicos, evangélicos e kardecistas têm um padrão de voto declarado bastante semelhante: mais de 60% deles votaram em Lula e cerca de 30% votaram em Serra (Gráfico 14)35. Esses números mostram que, entre os evangélicos, a candidatura Lula teve um aumento de 30 pontos percentuais, ao passo que a candidatura Serra aumentou somente 22 pontos percentuais. Ou seja, Lula atraiu aproximadamente 53% dos eleitores evangélicos que haviam votado em Ciro, Garotinho, nulo ou em branco no primeiro turno. Esse comportamento contrasta bastante com o padrão de votação dos evangélicos nas eleições de 1989 e 1994, quando houve, entre eles, considerável rejeição da candidatura Lula.

A Igreja Universal e as outras denominações não especificadas foram as religiões evangélicas em que houve mais alterações positivas na candidatura Lula. Os membros da Assembléia de Deus praticamente se dividiram ao meio: entre eles, Lula acrescentou à sua carteira de votos 32.8 pontos percentuais e Serra 31.2. O mesmo ocorreu entre os fiéis da Igreja Batista: entre eles, Lula recebeu a mais 27.5 pontos percentuais dos votos; e Serra, 25. Os membros da Congregação Cristã no Brasil representam um caso diferente. Entre eles, Lula recebeu 56% de votos no primeiro turno e 57.7% no segundo. Serra, ao contrário, recebeu 24% no primeiro turno e 34.6% no segundo.

Quais foram os determinantes dessas escolhas de católicos, kardecistas, adeptos do candomblé e umbanda, e sobretudo dos evangélicos? Com o objetivo de mapear os principais determinantes da escolha de candidaturas, os entrevistados foram expostos a doze de fontes de informação a respeito dos candidatos a presidente da República em 200236. Para a maioria dos grupos, os debates entre os candidatos na televisão constituem-se num importante veículo para a decisão do voto: em torno de um terço deles elegeu essa como a mais importante variável (Gráfico 15)37. Em segundo e terceiro lugares, aparecem, respectivamente, a propaganda política na televisão e conversas com amigos e parentes a respeito dos candidatos.

De todos estes, apenas dois produziram distinções estatisticamente significativas entre os grupos examinados: notícias nos jornais a respeito das diferentes candidaturas e informações da igreja sobre os candidatos38. Os adeptos do kardecismo se destacam pela importância atribuída às notícias veiculadas nos jornais sobre os candidatos a presidente em 2002 (Gráfico 16)39. Cerca de 13.2% deles mencionaram essa fonte como a mais importante para a decisão do voto. Entre os demais grupos, essa fonte é bem menos decisiva: o percentual indicado entre os kardecistas é quase o dobro do existente entre as pessoas sem vínculos religiosos (7.9%) e entre os evangélicos (6.0%); e quase quatro vezes maior que a porcentagem encontrada entre os católicos (3.4%). Nenhum dos membros do candomblé e umbanda mencionou essa fonte como sendo a mais importante.

A informações da Igreja sobre os candidatos afetam mais o eleitorado filiado às denominações evangélicas. Aproximadamente 11.6% deles mencionaram essa fonte como sendo a mais importante na decisão acerca da escolha do candidato a presidente. Uma porcentagem bem inferior de católicos (2.4%) citou a igreja como a mais importante. Para kardecistas e adeptos das religiões afro-brasileiras, esse elemento não se constitui num determinante na decisão do voto. Esses números significam que, embora todos os grupos se unifiquem na eleição dos debates na televisão como fator mais importante na escolha de candidatos, o peso atribuído às informações advindas da igreja é o elemento que distingue os evangélicos dos demais grupos, inclusive os católicos.

Quais são os partidos políticos de preferência dos evangélicos e como são escolhidos? Com exceção dos adeptos do kardecismo, a maioria em todos os grupos aqui examinados não se identifica com nenhum partido político (Tabela 18). Os menores níveis de identificação partidária são encontrados entre os evangélicos. Apenas 32.3% se sentem representados por algum partido. Entre os indivíduos sem religião, esse número é praticamente igual: 32.6%. Católicos e membros do candomblé e da umbanda têm um perfil similar a esse respeito: 39.2% e 40.9%, respectivamente, consideram que algum partido específico representa o que eles pensam a respeito do mundo político.



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As porcentagens melhoram significativamente quando deixamos de lado a identificação partidária e passamos para a simpatia partidária40. Perguntados se gostam de algum partido, a maioria entre os católicos, kardecistas, candombleístas e umbandistas respondeu positivamente. Entre esses três grupos, as porcentagens são bastante similares. Novamente os evangélicos e as pessoas sem religião são os que menos dizem gostar de algum partido político41. Em todos os segmentos, a proporção de indivíduos que gosta de alguma agremiação é superior aos que se sentem identificados aos partidos.

Com quais partidos políticos os diversos grupos se identificam? E quais são os que eles rejeitam? Em todos os grupos, a maior minoria se agrega em torno da preferência pelo Partido dos Trabalhadores. Esse grau de identificação é menor no caso dos evangélicos: 20.2% – em comparação com os 23.4% dos católicos, 23.6% das pessoas sem vínculos religiosos, os 31.8% dos adeptos das religiões afro-brasileiras e 36.7% dos kardecistas.

Se as preferências não são muito distingüíveis quando examinamos os partidos com os quais os entrevistados se identificam, elas se tornam um pouco menos obscuras quando analisamos as agremiações partidárias mais rejeitadas pelos membros de cada um desses grupos (Gráfico 17)42. O PFL é o partido mais rejeitado por três grupos: adeptos das religiões afro-brasileiras (66.7%), kardecistas (55.9%) e pessoas sem vínculos religiosos (55.7%). Além disso, ele é o segundo partido mais rejeitado pelos católicos (45.5%) e o terceiro, pelos evangélicos (43.9%). Neste último grupo religioso, os dois partidos mais rejeitados são PDT (45.5%) e PTB (45.1%). O Partido Trabalhista Brasileiro é também a legenda mais rejeitada pelos fiéis da Igreja Católica. Em todos os grupos, o Partido dos Trabalhadores aparece como o partido menos rejeitado, sobretudo no caso dos membros do candomblé e umbanda. Esses números significam que, embora, entre os evangélicos, a maior minoria se identifique com o PT, a grande maioria deles não possui nenhuma preferência partidária. De fato, entre todos os grupos, os evangélicos são os que menos se identificam com alguma agremiação partidária. Ou seja, apesar de terem se mostrado entusiastas em relação a algumas candidaturas – como a de Anthony Garotinho na eleição presidencial de 2002 –, os evangélicos não demonstram atitude semelhante em relação a nenhum partido político. É bastante problemático, portanto, utilizar seu padrão de preferência partidária para posicioná-los numa escala ideológica.

Quando perguntados acerca de quais variáveis são importantes na escolha de um partido, a maioria em cada um dos grupos apontou a honestidade dos membros da legenda (Tabela 20). O segundo elemento mencionado como sendo mais importante pela maioria das religiões consiste no programa do partido. A atuação passada dos representantes da agremiação aparece em terceiro plano para a maioria dos grupos (kardecistas, pessoas sem religião e adeptos do candomblé e umbanda). Por fim, a presença de amigos e parentes no partido é pouco determinante para todas as religiões.


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Quais critérios, no entanto, distinguem claramente os diversos grupos43? Apenas dois: o programa do partido, que separa dos kardecistas dos demais segmentos, e o apoio de autoridades religiosas, que singulariza o eleitorado evangélico. O programa partidário é o critério fundamental para a escolha do partido político no caso de 30.5% dos kardecistas44. Evidentemente, esta preferência se coaduna com o nível de escolaridade desse grupo. Esse elemento é também importante, embora em graus diferenciados para os demais grupos: pessoas sem religião (19.3%); católicos (15.6%); adeptos das religiões afro-brasileiras (14.3%) e evangélicos (12.5%).



Gráfico 18

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O apoio de autoridades religiosas, por sua vez, é o fator que distingue o segmento evangélico dos demais grupos45. Cerca de 19.1% deles elegeram esse quesito como critério fundamental para a decisão acerca da escolha partidária. O que importa salientar é a magnitude desse valor na comparação com os demais grupos religiosos. Pode-se dizer que a importância atribuída, pelos evangélicos, ao apoio de autoridades da Igreja é mais de duas vezes maior que o peso dado pelos católicos a esse mesmo fator; quatro vezes maior que do que o peso dado pelos membros do candomblé e umbanda; e, por razões óbvias, mais de oito vezes maior do que o impacto dessa fonte para a decisão das pessoas sem religião. Entre os kardecistas, essa variável simplesmente não pesa na escolha partidária.



Considerações finais


Procuramos testar, três diagnósticos sobre o eleitorado evangélico no Brasil: sua associação com condições indicativas de pobreza, suas afinidades com a direita no espectro ideológico e, por fim, a idéia de que a filiação religiosa tende a se traduzir em lealdades religiosas quase que automáticas ("irmão vota em irmão").

Conforme aponta a literatura, os fiéis evangélicos – sobretudo os membros das denominações pentecostais –, provêm de setores socioeconômicos significativamente desprivilegiados, tanto no que se refere à renda quanto ao nível de escolaridade. Esse perfil, no entanto, não é exclusivo ao segmento evangélico; ao contrário, guarda consideráveis similaridades com o público adepto das religiões católica e afro-brasileiras (candomblé e umbanda). Diante dessa semelhança de perfis, dificilmente eventuais diferenças de opinião, atitude ou comportamento entre esses três grupos podem ser atribuídas aos fatores acima mencionados – renda e escolaridade.

Mostramos como posições tradicionalistas dos evangélicos em relação ao aborto e ao homossexualismo não são necessariamente acompanhadas por posturas políticas conservadoras (o exemplo que utilizamos foi o posicionamento em relação à proibição de greves contra o governo). Essa dissociação torna difícil caracterizar os evangélicos como membros da base do que vem sendo identificado como "nova direita". As opiniões desse grupo diante de temas econômicos, além disso, acentuaram ainda mais a dificuldade de posicioná-los claramente à direita ou à esquerda do espectro ideológico.

Em relação ao comportamento eleitoral, vimos que parte significativa do segmento evangélico – com exceção dos fiéis da Congregação Cristã no Brasil – optou pela candidatura de Anthony Garotinho no primeiro turno da eleição presidencial de 2002. Embora essa constatação em si só seja insuficiente para validar a tese de que a filiação religiosa evangélica tende fortemente a gerar lealdades políticas similares, a análise dos determinantes da escolha eleitoral e partidária revelou que a influência da igreja e das autoridades religiosas é desproporcionalmente maior no caso dos eleitores evangélicos.

O aspecto mais interessante da análise foi a dupla constatação de que, tal como os católicos, os evangélicos são pouco expostos aos meios de comunicação de massa, ao mesmo tempo em que (diferentemente de qualquer grupo religioso) têm um grau bastante elevado de exposição às autoridades religiosas de seus respectivos cultos. Como mencionamos anteriormente, essa carência de exposição às fontes de informação midiáticas transforma o público evangélico num segmento altamente passível de mobilização por parte dos líderes evangélicos – caso seja essa a decisão da hierarquia religiosa. Isso significa que os eleitores evangélicos, se mobilizados, podem a vir se interessar mais pelo universo político-eleitoral46. Também significa que, caso as muitas denominações consigam superar suas divergências e se unificar em torno de uma plataforma política comum, os evangélicos podem eventualmente se transformar numa clientela cativa de determinadas ofertas políticas.



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TOCQUEVILLE, A. A democracia na América. São Paulo: EDUSP, Belo Horizonte: Itatiaia, 1977. [ Links ]




1 Processo semelhante de aumento do público sem qualquer filiação religiosa também vem ocorrendo em alguns países da Europa. Knutsen (2004) mostra que, em média, esse segmento do eleitorado europeu – os países que ele examina são Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Grã-Bretanha, Irlanda, Itália e Países Baixos – cresceu 10% entre 1970 e 1997.
2 De acordo com Montero & Almeida (2000), o processo de separação entre poder secular e poder temporal no Brasil, sagrado inicialmente pela Constituição de 1891, resultou na manutenção da centralidade da Igreja Católica. Ou seja, o processo de laicização da vida civil e política do país foi simultâneo à concessão, ao catolicismo, de uma preeminência sobre as demais religiões. Algumas delas, como as religiões mediúnicas, acabaram sendo perseguidas, não se beneficiando, durante longos períodos, da liberdade religiosa oficialmente existente. Essa posição de centralidade da Igreja Católica começou a se alterar nas últimas décadas, sobretudo no decorrer do regime militar quando ocorreu, segundo Montero & Almeida (2000, p. 329), “o rompimento relativo de sua aliança com o Estado e as elites”.
3 Como “as religiões mediúnicas foram recorrentemente perseguidas” – como mostram Montero & Almeida (2000, p. 328), até o Código Penal de 1985 práticas associadas ao candomblé e à umbanda permaneciam sendo categorizadas como crimes contra a credulidade popular –, seria de se esperar que, ausentes as condições de restrição, elas florescessem.
4 De acordo com o IBGE, na região nordeste do país, em 1980, os evangélicos correspondiam a 3.4% da população. Em 2000, conformavam 10.3% dos habitantes da região. No sul, por sua vez, os evangélicos passaram de 9.8% (1980) para 15.3% (2000). Nas demais regiões, os números são, respectivamente, os seguintes: norte, 7.9% e 19.7%; sudeste, 7.2% e 17.5%; e centro-oeste, 8.0% e 18.9%.
5 As religiões evangélicas chamadas de não-pentecostais ou históricas compreendem, no Brasil, sobretudo as seguintes denominações: Igrejas Batista, Episcopal, Luterana, Metodista e Presbiteriana. Entre as evangélicas pentecostais principalmente: Assembléia de Deus, O Brasil para Cristo, Congregação Cristã no Brasil, Deus é Amor, Universal do Reino de Deus. A novidade incorporada pelas denominações pentecostais é a centralidade da crença na ação do Espírito Santo, manifesta através da reprodução, nos cultos, de partes do episódio de Pentecostes, em que o fiel supostamente fala em línguas estranhas.
6 Para uma periodização do avanço do pentecostalismo no Brasil, ver, entre outros, Freston (1994).
7 Montero (1999, p. 358) salienta a importância do “modo pelo qual [o pentecostalismo] dialoga com a tradição religiosa africana, ao promover, em seus cultos, o exorcismo de Exus”. Fernandes (1998), por sua vez, mostra que, no Grande Rio, cerca de 51% dos entrevistados evangélicos afirmaram ter recebido algum dom do Espírito Santo. Dentre eles, 22% receberam o dom de falar em línguas estranhas e 3%, de exorcizar demônios.
8 Como lembra Montero (1999, p. 356), essa associação do pentecostalismo com condições sócio-econômicas adversas, em que a precariedade da presença estatal é patente, fez com que muitos autores equacionassem o crescimento das religiões evangélicas a “uma regressão da racionalidade e da modernização da vida pública – esse tipo de religião nasceria da pobreza e se alimentaria da falência da capacidade do Estado de responder às necessidades básicas da população”. Burdick (1993), por outro lado, vê essa mesma associação sob prisma diferente. Seu trabalho descreve como as associações de bairro comandadas por evangélicos – ele analisa membros da Assembléia de Deus na região metropolitana do Rio de Janeiro – são geralmente mais eficazes na solução dos problemas locais em virtude da maior persistência e credibilidade de suas lideranças.
9 Sobre o crescimento da presença evangélica no cenário político nacional, ver, entre outros, Pierucci (1989), Freston (1993, 1994 e 2001), Fonseca (2002). Oro (2003), por sua vez, foca sua análise especificamente no êxito eleitoral da Igreja Universal do Reino de Deus e no seu impacto não só na arena política (em termos da busca, por parte dos políticos tradicionais, do apoio dos pastores evangélicos), mas também na arena religiosa (uma vez que outras denominações também passaram a lançar candidatos às eleições).
10 Esse apoliticismo dos evangélicos seria decorrente, em parte, da necessidade de manutenção da separação entre a esfera do sagrado e do profano e, em parte, da natureza da inserção do pentecostalismo no Brasil. Introduzido por missionários norte-americanos, o avanço do evangelismo pentecostal estaria associado ao não-engajamento na esfera política.
11 Alves (2000) mostra que, no município de São Paulo, o público que compõe a chamada “nova direita” é também pouco homogêneo.
12 Grifos do autor. Segundo Pierucci que escreve em 1989, “a partir deste final dos anos 80 o País pode contar com uma nova milícia de incentivadores da participação política das camadas mais pobres e marginalizadas da população. Nos dias que correm, o ‘renascimento em Cristo’, ou seja, a conversão ao evangelismo, mesmo o mais fundamentalista e menos politizado, pode representar para o converso uma inesperada via de acesso ao sistema de participação política. Porque, a partir de agora, ‘irmão vota em irmão’”.
13 Como salienta Fernandes (1998, p. 41), a “Reforma Protestante promoveu uma radical dessacralização da hierarquia eclesiástica. As instituições eclesiais continuam a existir, naturalmente, mas o seu valor tende a ser reduzido a uma dimensão funcional. Por isto, não há dificuldades transcendentais em romper com uma igreja existente e fundar uma outra. A “Igreja”, no sentido profundo, não está na hierarquia e em seus rituais. Ela torna-se visível, apenas, no culto dos fiéis reunidos em assembléia.”
14 Para uma descrição da magnitude das mudanças de filiação religiosa – de outras religiões para o interior do segmento evangélico e entre as diversas denominações – ver, entre outros, Prandi (1996), Pierucci & Prandi (1995), Fernandes (1998) e Almeida & Montero (2001).
15 As religiões afro-brasileiras são candomblé e umbanda. Na categoria “outras”, por sua vez, os principais grupos são os seguintes: religião judaica, budista, seisho-no-iê, messiânica, Perfeita Liberdade, Santo Daime.
16 Os dados mostrados no Gráfico 1 são estatisticamente significativos ao nível de 0.000 (valor de 75.2300) com base no teste do chi-quadrado. O valor de V de Cramér foi de 0.0912.
17 Estatisticamente significativo ao nível de 0.018 (valor de 7.9842) com base no teste do chi-quadrado. O valor de V de Cramér foi de 0.1548.
18 Estatisticamente significativo ao nível de 0.000 (valor de 69.6420) com base no teste do chi-quadrado. O valor de V de Cramér foi de 0.0983.
19 Estatisticamente significativo ao nível de 0.000 (valor de 74.2239) com base no teste do chi-quadrado. O valor de V de Cramér foi de 0.2211.
20 Estatisticamente significativo ao nível de 0.000 (valor de 624.4334) com base no teste do chiquadrado. O valor de V de Cramér foi de 0.2975.
21 Segundo Tocqueville (1977, p. 145), é o olho da imprensa, “sempre aberto, que constantemente põe a nu os redutos secretos da política e força os homens públicos a comparecer, cada um por sua vez, perante o tribunal da opinião.”
22 Os dados foram categorizados da seguinte maneira: alta freqüência agrupa o público que lê jornal todos os dias; freqüência média, o segmento que lê jornal uma ou algumas vezes por semana; baixa freqüência, os que raramente lêem e nula, os que não lêem. Os dados mostrados no Gráfico 6 são estatisticamente significativos ao nível de 0.000 (valor de 46.1982) com base no teste do chi-quadrado. O valor de V de Cramér foi de 0.0801.
23 Entre as pessoas mais escolarizadas, 87.7% lêem jornais pelo menos uma vez por semana. Entre o público menos escolarizado (que não completou o ensino fundamental), essa proporção é de 22.7%. Esses dados são estatisticamente significativos ao nível de 0.000 (valor de 560.4074), com base no teste do chi-quadrado. O valor do V de Cramér foi de 0.2790.
24 Estatisticamente significativo ao nível de 0.005 (valor de 21.8367) com base no teste do chi-quadrado. O valor de V de Cramér foi de 0.0675.
25 Estatisticamente significativo ao nível de 0.006 (valor de 21.5427) com base no teste do chi-quadrado. O valor de V de Cramér foi de 0.0670.
26 Mannheim (1972) trabalha as diferenças entre tradicionalismo e conservadorismo.
27 Os dados mostrados no Gráfico 9 são estatisticamente significativos ao nível de 0.000 (valor de 52.8614) com base no teste do chi-quadrado. O valor de V de Cramér foi de 0.2108.
28 No teste de chi-quadrado, as duas últimas opções – a associação do homossexualismo à imoralidade eà doença – foram agrupadas. Os dados mostrados no Gráfico 10 são estatisticamente significativos ao nível de 0.000 (valor de 29.9559). O valor de V de Cramér foi de 0.1587.
29 Estatisticamente significativo ao nível de 0.000 (valor de 44.3118) com base no teste do chi-quadrado. O valor de V de Cramér foi de 0.1376.
30 Os membros da Assembléia de Deus, mais uma vez, são os mais tradicionalistas: cerca de 83.5% se mostraram favoráveis à proibição do programa. Os menos tradicionalistas são os membros da Igreja Universal do Reino de Deus: mesmo assim, 70.4% deles consideraram correta a proibição. Todos os demais grupos também se posicionaram a favor do veto ao programa e situam-se entre esses dois pólos: batistas, 79.6%; outras denominações pentecostais, 75.9%; Congregação Cristã no Brasil, 75.0%; outras denominações evangélicas, 74.4%; outras igrejas não-pentecostais, 72.2%. O teste de chi-quadrado apresentou nível de significância de 0.000 e o valor de 39.7989. O valor de V de Cramér foi de 0.1304.
31 O teste de chi-quadrado nível de significância de 0.000 e o valor de 37.3920 (valor de V de Cramér: 0.0732). Num segundo teste a respeito da posição em relação às greves contra o governo, agregamos as opiniões em dois pólos (sempre permitidas ou permitidas na maioria das vezes vs. sempre proibidas ou proibidas na maioria das vezes). Neste caso, teste de chi-quadrado apresentou nível de significância de 0.000 e o valor de 26.8250 (valor de V de Cramér: 0.1073).
32 Perguntados a respeito da reforma agrária no Brasil, 48.5% dos evangélicos responderam que “o governo deve desapropriar as terras sem uso”. 51.5% deles, no entanto, se opõem à desapropriação deáreas improdutivas e acreditam que “o dono da terra deve ter o direito de querer ou não cultivar suas terras”. Como esses resultados não são estatisticamente significantes, a temática da reforma agrária – embora fundamental no debate entre esquerda e direita – não será explorada aqui.
33 O teste de chi-quadrado apresentou o nível de significância de 0.000 e o valor de 396.9077. O valor do V de Cramér foi de 0.2272.
34 De acordo com Pierucci & Mariano (1992), as autoridades religiosas da Congregação Cristã no Brasil pregam uma separação estrita entre religião e política.
35 O teste de chi-quadrado apresentou nível de significância de 0.001 e o valor de 25.5519. O valor do V de Cramer foi de 0.0814.
36 As opções apresentadas foram as seguintes: conversas com colegas de trabalho ou da escola; propaganda política na televisão; notícias sobre os candidatos nos jornais; notícias sobre os candidatos no rádio; notícias sobre os candidatos na televisão; ouvir os candidatos em comício; informações da igreja sobre os candidatos; informações de associações de moradores sobre os candidatos; os resultados das pesquisas eleitorais; debates entre candidatos na televisão; conversas com amigos e pessoas da família; propaganda política no rádio. Os entrevistados receberam um cartão com essas dozes alternativas e foram solicitados a indicar as três mais importantes em ordem decrescente.
37 O teste de chi-quadrado apresentou nível de significância de 0.000 e o valor de 115.6701. O valor do V de Cramér foi de 0.1278.
38 As doze fontes de informação (ou determinantes do voto) listadas na nota 33 foram trabalhadas de duas formas. Num primeiro momento, agrupamos todas elas numa única variável e observamos quais delas foram listadas como sendo a mais importante para cada um dos grupos. Esses resultados que apareceram no Gráfico 15 revelam, portanto, as similaridades entre os diferentes grupos. Num segundo momento, buscamos o que é distintivo de cada grupo. A fim de verificar se há diferenças estatisticamente significativas na importância atribuída a essas fontes de informação por cada um dos cinco grupos, as doze opções foram analisadas individualmente. O Gráfico 16 resume os resultados dessa segunda análise. O mesmo procedimento foi utilizado na análise dos determinantes da escolha dos partidos políticos.
39 No caso do item “notícias sobre os candidatos nos jornais”, o teste de chi-quadrado apresentou nível de significância de 0.000, o valor de 29.8782 e o valor do V de Cramér foi de 0.0750. Para o outro item (“informações da igreja sobre os candidatos”), os mesmos indicadores apresentaram os seguintes números: 0.000, 95.5821, e 0.1341.
40 Como indicação da existência ou não de identificação partidária, utilizamos a seguinte questão:“Existe algum partido político que representa a maneira como o(a) Sr(a) pensa?”. Já para a aferição do que estamos denominando de “simpatia partidária”, a pergunta selecionada foi: “De um modo geral, existe algum partido político que o(a) Sr(a) goste?”
41 Entre as denominações evangélicas, não há distinções claras entre pentecostais e não-pentecostais. Os dois grupos com as menores proporções dos que dizem gostar de algum partido político são Congregação Cristã no Brasil (27.8%) e Igreja Universal do Reino de Deus (29.6%). Entre as demais denominações, quatro em cada dez evangélicos gostam de algum partido: Assembléia, 41.5%; Batista, 45.1%, outras pentecostais, 41.0%; outras não-pentecostais, 43.2%; outras evangélicas, 48.7%. O teste de chi-quadrado apresentou nível de significância de 0.006 e o valor de 19.6813.
42 Os níveis de significância (valor) e V de Cramér foram, respectivamente, os seguintes: PT, 0.000 (28.3166), 0.0791; PDT, 0.014 (25.2526), 0.0603; PSDB, 0.006 (27.6760), 0.0632; PFL, 0.000 (36.9915), 0.0730; PMDB, 0.002 (31.3071), 0.0671; PTB, 0.003 (29.7579), 0.0657.
43 Observe nota 35.
44 O teste de chi-quadrado apresentou nível significância de 0.005 (valor de 22.1918); valor de Cramér’s V foi de 0.0720.
45 O teste de chi-quadrado apresentou nível significância de 0.000 (valor de 76.7291); valor de Cramér’s V foi de 0.1338.
46 Perguntados se votariam caso não houvesse a obrigatoriedade da participação eleitoral, os evangélicos, ao lado das pessoas sem vínculos religiosos, em sua maioria, responderam que não votariam – evangélicos (54.3%) e irreligiosos (57.2%). Nos demais grupos, em contraste, formou-se uma maioria disposta a votar mesmo diante da não-obrigatoriedade do voto: membros do kardecismo (63.9%), adeptos das religiões afro-brasileiras (63.6%) e católicos (52.7%). O teste de chi-quadrado apresentou nível de 0.002, valor de 16.5478 (V de Cramér foi de 0.0839).
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"Ekklésia Christiana"

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