Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

A Doutrina do pecado de Morte como fator de desenvolvimento de quadro depressivo nos membros da Congregação Cristã no Brasil (2ª parte)

Ir para baixo

A Doutrina do pecado de Morte como fator de desenvolvimento de quadro depressivo nos membros da Congregação Cristã no Brasil (2ª parte) Empty A Doutrina do pecado de Morte como fator de desenvolvimento de quadro depressivo nos membros da Congregação Cristã no Brasil (2ª parte)

Mensagem  marcio ferreira Ter Jan 01, 2013 7:42 pm





A DOUTRINA DO PECADO DE MORTE COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DE QUADRO DEPRESSIVO NOS MEMBROS DA CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL

(2ª parte)


demais desejos como impuros, somada a informação de que Deus é um juiz implacável,
pronto a castigar os deslizes desta natureza, o cristão, até hoje, dificilmente consegue
enxergar a depressão como uma doença biológica, que precisa ser submetida a um
tratamento apropriado. Pérsio Ribeiro Gomes de Deus (2008, p. 81) assim define a
depressão:
A neurociência entende a depressão como sendo uma desordem do funcionamento
cerebral, que afeta e compromete o funcionamento normal do organismo, com
reflexos ou consequências na vida pessoal em seus aspectos emocionais ou
psicológicos, familiares e sociais. A doença depressiva deve portanto ser examinada
sob o ponto de vista biológico, genético, cognitivo, social, história pessoal,
econômica e espiritual.
A depressão corresponde a um estado de doença onde o cérebro tem seu
funcionamento normal alterado. A depressão, ou síndromes depressivas, são
doenças multicausais, portanto com a interferência de diversos fatores causais. Nas
depressões ocorre um comprometimento multigênico, sendo até três vezes mais
frequente em pessoas com antecedentes hereditários positivos.
Porém, a informação de que a depressão corresponde a um estado de doença do cérebro,
afetando todo o funcionamento do organismo não está, até o momento, acessível à grande
maioria da população. O sentimento religioso no cristão portador da doença depressiva não
lhe permite encarar seu estado de debilidade como uma enfermidade que carece de
tratamento terapêutico específico. O que permanece é a clara associação entre tristeza e
angústia à crença de que Deus não está satisfeito com a conduta do indivíduo.
Dentre as causas principais da depressão, pode-se relacionar a “predisposição genética;
desequilíbrio químico; efeito secundário – diversas enfermidades trazem como
consequência a depressão, por isso chamada de causa secundária – reação a perdas;
culpa; opressão espiritual; estresse” (AITKEN, 2007, p. 17-19). Desta forma, uma avaliação
equivocada e unilateral por parte do doente, médico ou do líder espiritual pode ter efeitos
prejudiciais para o diagnóstico, recuperação e cura da depressão.
A Congregação Cristã no Brasil, doravante designada pela sigla CCB, é uma igreja
protestante de cunho pentecostal fundada no Brasil em 1910, nas bases do movimento
pentecostal norte-americano do início do século XX. Algumas características e
peculiaridades tornam-na o que pode ser chamado de “um pentecostalismo sui generis”
(FOERSTER, 2006, p. 121). Seus ensinamentos são transmitidos oralmente, com raras
publicações. O novo converso na CCB não passa por nenhuma espécie de curso
preparatório para o batismo – único ato de iniciação/aceitação de novos membros – e
nenhuma outra forma de doutrinação por parte da liderança para se integrar a comunidade.
Desta forma, é por meio da observação dos ritos e da conduta dos “domésticos na fé”
1
que o
novo converso vai estruturando sua cosmovisão, comportamento e confissão, de maneira a
reproduzir a estrutura vigente no grupo.

1
Termo que designa um membro ativo, já batizado. Universidade Presbiteriana Mackenzie
9
É notório que a ética protestante procura estabelecer distinção com relação ao catolicismo.
A CCB, por sua vez, procurar estabelecer uma distinção ainda mais radical. Apresenta-se
como separada tanto do catolicismo quanto das demais denominações protestantes. Ela se
considera uma “comunidade religiosa fundamentada na doutrina apostólica”. Aqui, o termo
“apostólico” denotaria o desejo de restaurar as origens do cristianismo, já que, para esta
denominação, todas as outras vertentes do cristianismo estão afastadas do que consideram
a “são doutrina de Jesus Cristo”.
A CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL, é uma comunidade religiosa
fundamentada na doutrina apostólica (Atos 2:42 e 4:33), apolítica, sem fins
lucrativos, constituída de número ilimitado de membros, sem distinção de sexo,
nacionalidade, raça, ou cor, tendo por finalidade propagar o Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo, o amor a Deus, tendo por cabeça só a Jesus Cristo e por guia
o Espírito Santo (São João, 16:13)[...] (CCB, Estatuto 2004, Art. 1º, grifo nosso).
A CCB destaca-se no cenário evangélico como uma igreja separada, escolhida por Deus
para preservar a “sã doutrina”. Essa consciência pode ser explicada pelas palavras de Louis
Francescon, seu fundador, onde idealiza o que seria a “Constituição da Igreja Perfeita”.
Essa constituição foi adotada pela CCB no Estatuto de 1936.
CONSTITUIÇÃO DA IGREJA DE DEUS
Jesus é a cabeça da Igreja. O Espírito Santo é a Lei para guiá-la em toda a verdade.
Sua organização é a Caridade de Deus no coração de seus membros, que é o
vinculo da perfeição. Onde esses três não governam, é satanás que governa em
forma de homem para seduzir o povo de Deus com sabedoria humana.
Naquilo que concerne à moralidade sexual, a CCB segue o mesmo paradigma das demais
igrejas evangélicas, porém, com um ponto distintivo. A relação sexual mantida fora do
casamento é considerada um pecado irreversível. Esta doutrina entende que o pecado de
ordem sexual é o que a Bíblia classifica como “pecado de morte”, em uma interpretação
particular de alguns textos bíblicos como:
Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará
vida, aos que não pecam para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo
que rogue. Toda injustiça é pecado, e há pecado não para morte. (1 João 5,16-17,
grifo nosso).
É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom
celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de
Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez
renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si
mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia (Hebreus 6,4-6).
Sobre a definição dos pecados sexuais como “pecados de morte” evidencia o Resumo de
Ensinamento da Assembléia Geral da denominação, 1936-2009:
INFIDELIDADE MATRIMONIAL
Se alguns dos cônjuges tornar-se [sic] infiel ao matrimônio, deixa-se a decisão do
caso a critério da parte ofendida, pois a lei de nosso país permite divórcio a vínculo,
que somente nesse caso Deus permite. (S. Matheus 19:9). O pecador será
excluído da comunhão com os fiéis (1936, grifo nosso).
02 - ERROS DE DOUTRINA: PREGAR QUE ADULTÉRIO NÃO É PECADO DE
MORTE [...] Quem pregou que adultério não é pecado de morte deve se retratar
perante a irmandade e desfazer o que disse. Se alguns pecaram e depois VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
10
declararam que se sentem perdoados, isto é entre eles e Deus. De nossa parte não
os impedimos de se congregar (1984, grifo nosso).
Assim, a CCB tem defendido que todo membro batizado que comete o pecado de fornicação
(sexo antes do casamento) ou adultério não possui nenhuma oportunidade de perdão e
reconciliação com Deus. Em um linguajar mais próprio, afirma-se que tal pessoa “perdeu o
direito da vida eterna”, conforme afirma Marcelo Ferreira da Silva (2007):
Muitos membros da CCB que cometem o pecado de adultério ou prostituição
entendem que não têm mais perdão, porque ‘blasfemaram contra o Espírito Santo’.
[...] A interpretação da CCB leva ao (sic) membro que cometeu adultério ou algum
pecado de natureza sexual a perder toda a sua esperança em Deus, ignorando a
misericórdia divina (Jo 10.10; 1Jo 2.1,2). Por causa dessa interpretação, alguns
membros da CCB, por se acharem indignos de qualquer forma de perdão,
suicidaram-se, e muitos, para não dizer milhares, pararam no caminho, passando o
restante de suas vidas depressivos, envergonhados, cabisbaixos, num estado
realmente deplorável (p. 208-209).
Como já exposto anteriormente, entre os círculos evangélicos há uma clara dicotomização
entre doenças de origem psicológica e física. Geralmente, o portador de doenças psíquicas
é visto na comunidade como um indivíduo que está sendo punido por conta de algum
pecado, ou que não consegue obter o perdão divino. No caso da CCB, a suposta validação
em determinados textos poderá então desencadear ou acentuar um quadro depressivo, pois
adiciona o sentimento de culpa sobre o indivíduo. Ressalta-se que tais passagens estão
interpretadas a revelia da exegese bíblica, em uma hermenêutica particular da
denominação. Importante salientar que, para o cristão protestante, não basta ouvir do pastor
ou de qualquer outra pessoa que Deus perdoa o pecado que tenha cometido.
Diferentemente do cristão católico, que possui no sacerdote a figura de mediador, o
protestante precisa “ouvir”, nas Escrituras, se de fato seu pecado pode ser perdoado:
Nestes casos, os recursos da graça que a Igreja Católica confia de modo particular a
seus sacerdotes poderão ser de grande valia para a elaboração de uma concepção
da vida, pois sua forma e seu significado se acham, desde o início, ajustados à
natureza dos conteúdos inconscientes. É esta a razão pela qual o sacerdote católico
não somente escuta a confissão dos pecados, como também interroga o pecador, e
deve mesmo interrogá-lo; pode perguntar-lhe também coisas que dizem respeito ao
domínio específico do médico. [...] Para o diretor de almas protestantes o problema
não é assim tão fácil, pois, fora a oração e a sagrada comunhão em comum, ele não
dispõe de cerimônias rituais (tais como retiros espirituais, o rosário, as
peregrinações, etc.) com seu simbolismo expressivo, e é por esta razão que ele se
vê obrigado a orientar a sua ação no terreno da moral, onde as forças instintivas do
inconsciente correm o risco de sofrer um novo recalque. [...] A simplificação puritana
privou o protestantismo dos meios com que pudesse agir sobre o inconsciente; em
qualquer caso, despojou o pastor da qualidade de mediador (tão necessária para a
alma). Ao invés disto, deixou o indivíduo entregue à própria responsabilidade e a sós
com seu Deus (JUNG, 1983, p. 352-353).
Parafraseando Durkheim (2007, pg. 102), o membro religioso da CCB que comete o pecado
de morte vê-se punido pelas sanções legais, o que é chamado de “perda de liberdade
2
”;

2
A palavra “Liberdade” no contexto da Congregação Cristã no Brasil denota a possibilidade do membro
desenvolver atividades cúlticas como participar da orquestra, fazer orações públicas, dar testemunhos ou, no
caso de um membro que ocupe algum cargo de liderança, exercer o ministério. Portanto, “perder a liberdade”
significa sofrer uma sanção definitiva e total, não podendo mais realizar qualquer atividade, tendo apenas a
possibilidade de participar, em silêncio, dos cultos regulares. Universidade Presbiteriana Mackenzie
11
além disso, sofre também as chamadas sanções espontâneas – aplicadas pelos indivíduos
do grupo por conta de uma conduta não adaptada. Finalmente, recebe toda a carga
emocional e psicológica por acreditar que Deus “deixou de amá-lo” ou de tê-lo como filho.
Neste sentido só lhe resta o juízo final e o inferno. É comum casos de membros que, após
cometerem esse tipo de pecado, mergulham em uma vida dissoluta moral e espiritualmente,
por entenderem que devem “aproveitar a vida”, já que se encontram condenados
definitivamente. Há relatos também de pessoas que, em um quadro depressivo profundo,
cometeram ou tentaram cometer suicídio.
O médico psiquiatra e psicanalista Carl Gustav Jung (1983, p. 42) descreve sua experiência
com relação aos conflitos que os indivíduos enfrentam diante das sanções eclesiásticas:
Em minha profissão tratei de indivíduos que não queriam ou não podiam submeterse à decisão da autoridade eclesiástica. Tive de acompanhá-los através de suas
crises e violentos conflitos, do medo de enlouquecer, dos seus desequilíbrios e
depressões.
Outra forma de influência da doutrina do pecado de morte em casos depressivos está
relacionada aos membros que não cometeram pecado dessa natureza, mas vivem em
constante angústia por conta dessa possibilidade. Por acreditarem que podem, a qualquer
momento, perder a vida eterna, alguns membros da CCB vivem um constante e interminável
conflito por causa do medo de não resistirem à tentação sexual. O dilema baseia-se na
possibilidade de perderem a liberdade dentro da organização e, finalmente, irem para o
inferno. Alguns depoimentos e questionamentos por parte de membros da CCB colhidos em
sites de relacionamento e blogs da rede mundial de computadores ilustram a maneira como
esses cristãos lidam com a questão do pecado de morte. Abaixo, a transcrição de dúvidas
feitas no site de relacionamento Orkut, em uma comunidade denominada “CCB
Congregação Cristã no BR”:
Tema “difícil”. Bom...Fala-se em pecado...Pecado de morte. O que é pecado de
morte para vcs [sic]? Porque vemos em nosso meio dizerem que pecado de
morte é o "adultério". Mais [sic] será mesmo que Deus ñ [sic] perdoa o adultero
caso ele vem a se [sic] arrepender? (2009, grifo nosso).
Em um blog encontra-se registrado o depoimento de uma pessoa que, após cometer
adultério, demonstra angústia e sofrimento por querer alcançar o perdão divino. Ela teme ter
perdido a salvação e, em suas palavras, acredita na possibilidade de Deus não poder
perdoá-la:
Irmão Mario, a paz de Deus!
O que acontece realmente é que cometi adultério, e não sei o que eu faço, todos os
dias choro muito, fui buscar na palavra e o senhor já falou comigo muitas vezes, mas
mesmo assim ainda dentro do meu coração fica aquela tristeza, primeiro porque
pequei contra Deus e depois contra o meu esposo, fiquei muito triste e penso como
tive a coragem de magoar o coração do senhor, porque eu ammo [sic] demais nosso
Deus, mas na hora em que aconteceu não pensei em nada e confesso que isso foi
somente minha culpa, naum [sic] tento colocar culpa no meu esposo [...] faz
somente 2 anos que somos casados, mas ia ser muito ruim ter que viver longe do VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
12
meu amor! Irmão o que eu faço, estou desesperada, triste e chorando muito, com
uma dor terrível no meu peito, naum [sic] sei como explicar, é horrível irmão só o fato
de penasr [sic] que Deus nunca mais poderá me perdooar [sic] e também ter que
viver longe do meu esposo, o que eu faço? que conto pro meu esposo? bom era
isso, que Deus abençoe você meu irmão! (BLOG DO MARIO, 2009).
No site Yahoo Respostas (2009), onde as pessoas podem compartilhar dúvidas sobre
quaisquer temáticas, há diversos questionamentos feitos por membros da CCB relacionados
a aspectos doutrinários. Ao menos um chama atenção, pois revela a dúvida com relação
aos pecados de ordem sexual:
Que praticas sexuais são caracterizadas "pecados de morte" na ccb? Sexo oral,
masturbar o namorado,fantasias, sexo anal??? sabemos que "sexo' antes do
casamento é pecado na ccb, mas até onde as brincadeirinhas de namorados podem
ir sem ser consideradas "pecado"... me ajudem please [sic]. Melhor resposta -
Escolhida pelo autor da pergunta - olá, eu sou da ccb...sexo antes do casamento é
pecado de morte, correto! agora assim, em questão de "brincadeirinhas"... eu
considero que qualquer uma que não haja o sexo realmente pode ser utilizada...sexo
oral e anal, são derivações do "sexo" e masturbação possivelmente também, então
essas já seriam pecado, mas tudo depende do seu ponto de vista...tudo é entre a
sua relação com Deus.espero ter ajudado (2009, grifo nosso).
Como visto, membros nestas condições vêem-se diante de um sentimento de impotência e
fracasso. Na CCB, costuma-se dizer que essas pessoas “naufragaram na fé”. Com suas
forças psicológicas comprometidas, o membro dificilmente procura tratamento terapêutico, já
que, para si, a causa de sua doença é exclusivamente espiritual. Trata-se do castigo divino
diante de seu naufrágio na fé.
Método
Para a realização da pesquisa com cunho quantitativo, fez-se uso da referência bibliográfica,
privilegiando os autores que abordaram a questão do medo, do pecado, do protestantismo e
suas doutrinas e o problema da depressão, bem como aqueles autores que pesquisaram o
desenvolvimento histórico e doutrinário da Congregação Cristã no Brasil. Embora limitado,
foi visitado o material bibliográfico da CCB, composto de atas, estatutos e resumos de
ensinamentos. Buscando ainda alcançar o objetivo da pesquisa, foi realizada pesquisa de
campo, da qual participaram membros e ex-membros da CCB. Foram abordadas cento e
duas (102) pessoas com perfil adequado para participar da pesquisa. Porém, apenas vinte e
quatro (24) aceitaram participar. Portanto, a amostragem é constituída de 24 pessoas, que
responderam voluntariamente a um questionário, visando perceber a relação entre
depressão e o sentimento religioso nos membros da CCB. Vinte e um (21) entrevistados
responderam ao questionário por e-mail. Três (03) entrevistados responderam ao
questionário pessoalmente. Desta forma, a pesquisa de campo adquiriu formato de “estudo
de casos”.
Com relação aos aspectos éticos, embora a pesquisa não tenha sido submetida ao Comitê Universidade Presbiteriana Mackenzie
13
de Ética em Pesquisa (CEP), os indivíduos que participaram da pesquisa o fizeram de forma
voluntária, tendo sua identidade preservada. As informações e os dados foram tratados sob
o mais absoluto sigilo. Foi reservado ao entrevistado o direito de omitir-se da resposta de
qualquer questão formulada. Para pertencerem ao grupo de estudo, os indivíduos
precisavam atender os seguintes parâmetros: Ser ou ter sido membro da Congregação
Cristã no Brasil; terem sido batizados na denominação
3
; aceitarem o termo de
consentimento de participação na pesquisa; aceitarem voluntariamente responder as
questões da pesquisa; em caso de menores de idade, ser autorizado pelos responsáveis. O
questionário para coleta dos dados e informações foi apresentado aos entrevistados no
seguinte formato:
Pesquisado___________________________________________ Nº na Pesquisa________
Idade__________ Sexo_________ Cidade___________________________ UF_________
Membro Ativo Ex-membro Tempo de freqüência: _________ anos
PERGUNTAS SIM NÃO
1. Durante o período em que frequenta ou frequentou a Congregação Cristã no
Brasil, sentiu-se deprimido em algum momento?

2. A qual causa ou motivo você atribuía seu estado depressivo?______________________________
3. Conhece a doutrina do pecado de morte?
4. Considera a doutrina do pecado de morte como agravante para seu estado
depressivo?

5. Quando deprimido procurou ajuda junto à liderança da igreja?
6. Quando deprimido, buscou ajuda especializada (terapêutica)?
7. Considera que seu sentimento religioso dificultou a busca por um tratamento
especializado?

Observações pessoais
Resultados e discussão
A revisão literária demonstrou a estreita relação entre pecado e depressão. Entre os
cristãos, a possibilidade de cometer determinado tipo de pecado ou o fato de ter cometido o
pecado tem sido fator de desenvolvimento de sentimentos como angústia e tristeza. Em
muitos casos, há também a associação entre os distúrbios de ordem mental com a ação
demoníaca. Desta forma, poucos são os cristãos que, achando-se tristes ou angustiados,
fazem associação de seu estado com algum tipo de distúrbio de ordem fisiológica. No caso
da religião cristã, pode-se supor um agravante na relação entre pecado e castigo. Para as

3
O batismo é a forma pela qual o indivíduo é aceito como membro da CCB. A única restrição para o batismo é
que se tenha mais de 12 anos de idade. Portanto, A pesquisa não fez restrição com relação à faixa etária,
considerando apenas que os entrevistados tinham acima de 12 anos de idade. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
14
religiões primevas, como o totemismo, o castigo relacionado a um agravo contra as
divindades era temido. Porém, o temor estava limitado apenas a este plano. Pestes, pragas,
fome, seca ou enchentes seriam as consequências punitivas por parte das divindades. Já,
para o cristão, o temor vai além. Mesmo relacionando o fracasso financeiro, doenças e
perdas ao castigo divino, há ainda o temor para o além-túmulo, o medo do inferno. “Não
temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode
fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mateus 10,28).
Ao ser batizado na CCB, o indivíduo precisa abrir mão de suas concepções sobre a vida e
as coisas, adotando um discurso pronto, o que lhe proporcionará o status necessário para
fazer parte deste grupo social. “A objetividade do mundo social significa que o indivíduo o
apreende como uma realidade externa que não é prontamente receptiva a seus desejos.
Está lá para ser reconhecida como realidade, para se chegar a um acordo com ela como
‘dura realidade’ (BERGER, 1985, p. 94). Este processo colocará o indivíduo em tensão entre
seus instintos e desejos e a moralidade que precisa ser interiorizada. “Como em todos os
produtos de interiorização, há uma tensão dialética entre a identidade socialmente
(objetivamente) fixada e a identidade subjetivamente apropriada, ponto fundamental para a
psicologia social” (BERGER, 1985, p. 95).
Analisando a grande preocupação doutrinária da CCB com relação ao comportamento de
seus membros, principalmente no que diz respeito às vestimentas, pode-se inferir que
tamanho rigor está diretamente relacionado com a sexualidade:
O povo de Deus aumenta; muitos sem entendimento ainda das determinações da
Palavra de Deus trazem para o meio da irmandade certos costumes e moda
perniciosa e de má aparência. Não podemos entretanto determinar às irmãs se
vestirem como freiras no entretanto podemos exortá-las porém, não obrigá-las a se
vestir com vestidos até aos pés e fechados até ao pescoço e mangas até nas mãos.
Todavia não podemos deixá-las em modas livres e decompostas acompanhando o
modernismo, fazendo-lhes ver que não se devem vestir escandalosamente pois tal
não é a porte de uma serva de Deus (CCB, 1936-2009).
Tal preocupação com a sexualidade pode ser explicada, neste caso, pelo conceito
estabelecido de que, uma vez caindo em pecados de ordem sexual, o crente perde sua
salvação. Desta forma, a tensão vai além do temor em cometer o ato sexual. Transpassa
para a forma de se vestir, falar e se relacionar. Tanto que, na ocasião do culto público, os
homens devem assentar-se separadamente das mulheres, ainda que se trate de suas
esposas ou filhas. Ressalta-se que, após o batismo, toda a responsabilidade da salvação é
atribuída ao membro. Mesmo tendo sido “chamado na graça”
4
, caso cometa o pecado
imperdoável, ou “pecado de morte”, esse indivíduo perde sua salvação.

4
Termo comum na CCB para designar o membro já batizado, “chamado por Deus” para tornar-se membro do
grupo. Universidade Presbiteriana Mackenzie
15
A orientação da CCB com relação aos pecados sexuais constitui ponto diferencial em
relação às demais denominações cristãs. Se, para os demais protestantes, a moralidade
sexual pode desencadear neuroses, a possibilidade de o membro da CCB perder a salvação
por cometer esse tipo de delito tende a acentuar os quadros de distúrbios de ordem mental.
São recorrentes os casos de membros que vivem em profunda tristeza por conta de seus
desejos e pensamentos relacionados à sexualidade, ou de membros e ex-membros em
permanente estado de angústia por terem cometido fornicação ou adultério.
A pesquisa de campo enfrentou algumas dificuldades na captação de voluntários. Grande
parte das pessoas abordadas negou-se a responder a entrevista. Algumas até mesmo se
dispuseram a receber o questionário, porém, não o responderam. Para tentar compreender
essa resistência, as palavras de Rubem Alves podem auxiliar:
O converso, antes mesmo de aprender qualquer coisa sobre o mundo, já aprende a
se interpretar com aquele que ignora. O seu conhecimento é suspenso num
parêntesis de dúvida. Não se lhe permite que ele invoque o que ele pensa saber,
para criticar o conhecimento que a Igreja lhe transmitirá. E isso porque seu
conhecimento é uma herança do seu tempo de trevas e perdição. Sua mente é
reduzida à condição de tabula rasa, folha de papel em branco. Não há o que dizer.
Só se deve escutar. Atrofia-se a boca. Hipertrofiam-se os ouvidos. Ele nada mais é
que um aprendiz, que se submete à instituição que, ele sabe, detém o monopólio do
conhecimento absoluto e que, por isso mesmo, detém sempre o monopólio do direito
de falar (2005, p. 156).
Ao abrir mão das informações que possuía em sua construção de mundo, o membro da
CCB deve enxergar todas as coisas, inclusive aquelas relacionadas aos seus próprios
sentimentos, a partir do prisma da doutrina. Admitir-se deprimido ou relacionar o estado
depressivo à doutrina da igreja seria, talvez, um exercício de desconstrução, minando a
segurança gerada pelas verdades estabelecidas.
Embora trabalhando com um universo bastante restrito por conta da dificuldade em obter
voluntários para a entrevista, a pesquisa de campo apontou para resultados que parecem
subsidiar o referencial teórico utilizado. Seguem os dados obtidos:
Perfil dos entrevistados

25
%
75
%
Anônimos
Identificados
46
%
54
%
Homens Mulheres
29
%
71
%
Membro Ativo
Ex-MembroRespostas às perguntas do questionário
A questão de nº 2 era de cunho pessoal, onde o entrevistado deveria relatar a qual causa ou
motivo atribuía o estado depressivo enfrentando. Setenta e um por cento (71%) dos
entrevistados afirmaram sentir
CCB. Destes, sessenta e sete por cento (67%) relacionou seu estado depressivo com
fatores doutrinários, como o medo de perder a salvação, cometer o pecado de morte ou
desagradar a Deus. A transcrição de algu
pode auxiliar na compreensão do estudo:
A influência da doutrina pregada pelo ministério da CCB, o pecado de morte, todo
aquele que o praticar jamais poderá ser o mesmo, tal afirmação afeta a autoestima
do membro dessa seita (Entrevistado nº 1).
0
10
20
30
40
50
60
70
1 2 3 4 5
0
10
20
30
40
50
60
1 2 3 4 5
0
Questão nº 7
Questão nº 6
Questão nº 5
Questão nº 4
Questão nº 3
Questão nº 1
VII Jornada de Iniciação Científica
Respostas às perguntas do questionário
A questão de nº 2 era de cunho pessoal, onde o entrevistado deveria relatar a qual causa ou
motivo atribuía o estado depressivo enfrentando. Setenta e um por cento (71%) dos
entrevistados afirmaram sentir-se deprimido em algum momento, durante a frequencia
CCB. Destes, sessenta e sete por cento (67%) relacionou seu estado depressivo com
fatores doutrinários, como o medo de perder a salvação, cometer o pecado de morte ou
A transcrição de algumas respostas dos entrevistados
pode auxiliar na compreensão do estudo:
A influência da doutrina pregada pelo ministério da CCB, o pecado de morte, todo
aquele que o praticar jamais poderá ser o mesmo, tal afirmação afeta a autoestima
do membro dessa seita (Entrevistado nº 1).
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
MÉDIA DE IDADE
31,92 Anos
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
TEMPO MÉDIO DE FREQUENCIA
20,21 Anos
3 6 9 12 15 18 21 24
Não soube responder
NÃO
SIM
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
16
A questão de nº 2 era de cunho pessoal, onde o entrevistado deveria relatar a qual causa ou
motivo atribuía o estado depressivo enfrentando. Setenta e um por cento (71%) dos
se deprimido em algum momento, durante a frequencia na
CCB. Destes, sessenta e sete por cento (67%) relacionou seu estado depressivo com
fatores doutrinários, como o medo de perder a salvação, cometer o pecado de morte ou
dos entrevistados à questão nº 2
A influência da doutrina pregada pelo ministério da CCB, o pecado de morte, todo
aquele que o praticar jamais poderá ser o mesmo, tal afirmação afeta a autoestima
21 22 23 24
21 22 23 24
Não soube responderU

marcio ferreira

Mensagens : 9
Data de inscrição : 15/05/2011

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos