O Cânon Neotestamentário: autoria e fidedignidade

Saudações cristãs,

Prezados...



Segundo nos informam a atual Hermenêutica e Arqueologia Bíblicas, os escritos neotestamentários ainda apresentam significativas lacunas - e sob os mais diversos aspectos.

Um deles (e um dos mais controversos) diz respeito a autoria dos textos apostólicos. Assim, supõe-se que muitos dos textos oficialmente arrolados na seleta coletânea "canônica", não devam ser pontualmente atribuidos aos seus respectivos autores. Tal se dá para com a Epístola a Tito em razão de suas peculiaridades estilisticas, bem como o conteúdo... O mesmo, no tocante às Epistolas "Petrinas"... Não constam no "Fragmento Muratoriano", e foram, já por Orígenes declaradas réprobas quanto a canonicidade... Consideram-se, contudo, pareceres patrísticos, tais como os de Pápias, Irineu e Policarpo - o segundo, por sua privilegiada condição (discípulo de João, o Apóstolo) e, portanto, ocular testemunha entre os períodos apostólico e pós-apostólico. Quanto a "Hebreus", permanece, desde os primeiros séculos envolto em incógnito mistério, não obstante, Lutero nele veja "as penas" do primitivo cooperador ministerial Apolo, e Calvino e Erasmo "traços" da estilística peculiar a Clemente de Roma... Seria pouco prudente atribuí-lo a Paulo ... As alas gregas, porém, não hesitaram em fazê-lo, desde remotos dias... "Atos dos Apóstolos", sequer dispunha de tal título... O mesmo, foi-lhe gradualmente aplicado, sendo que as vertentes ortodoxas orientais ainda conservam o designativo: "Atos Apostólicos" ou "Obras Apostólicas"... Pretender tê-lo como uma produção literária confiada a LUCAS, continua sendo uma medida paliativa ou provisória... ... Também o Livro da Revelação ("Apocalipse") sempre esteve sob mira de contínua suspeita. Alega-se, que sua composição/estrutura, bem como o "koiné" utilizado não apresentam substancial equivalência quando confrotados com os demais escritos atribuídos a João. Por conta disso, alguns autores insistem em mantê-lo "sob condição", e alguns, sem maiores cerimônias o tem excluído de seus "cânones" pessoais...Uma das mais recentes hipóteses, sugere que o presente texto seja de autoria de "João de Patmos", um dos membros ou oficiais da comunidade cristã congregada em Éfeso. Um das mais relutantes resistências para com o referido escrito se deu por parte dos ortodoxos orientais, que o acataram em sua canonicidade apenas tardiamente...

Ainda no quesito autoria, tem-se considerado (ainda que em menor escala) o filtro representado pelos amanuenses aos quais delegava-se (salvo raras excessões) a final redação.





De qualquer modo, mediante o exposto, compete-nos (por uma questão de prudência e cautela), sempre dirigir-se aos escritos mencionados como "atribuído à" e não "escrito por".

Bem, o "Cânon", em seu inicial esboço, foi formalmente apresentado apenas em 397 (Concílio de Cartago), o que nos indica o quão vasta e diversa eram as obras literárias em voga... Ademais, João o Apóstolo, de certa maneira já o antevira:

"Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem" (Evang. de João, 21:25).





Quanto à abrangência ou alcance dos textos, embora, providos de endereçamento em seu intróito, desde muito precocemente passaram a dispor de universal ou irrestrita aplicabilidade. Assim, uma sentença doutrinária particularmente emitida à primitiva "ekklésia" coríntia seria, por extensão, aplicada e/ou adaptada às necessidades locais de uma comunidade outra . Podemos ainda pressupor a regularidade deste princípio, pelo "intercâmbio epistolar" subjacente ao seguinte fragmento:


"E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a epístola que veio de Laodicéia lede-a vós também". (Colossenses 4:16)


Com relação às questões de ordem cronológica, tem-se como consenso que muitas delas não correspondem em exatidão ao tradicionalmente aceito, o que reflete de imediato na distribuição ou concatenação sequencial dos Escritos. Assim, Mateus não constitui o "carro abre-alas" da coletânea neotestamentária... Há que se destacar que a questão cronológica possui relevante peso na maneira como determinado texto é enfocado no âmbito da autoria.




Atenciosamente,

Em Caridade"

Irmão Ednelson