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"A Questão de Gênero na Congregação Cristã no Brasil"

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Mensagem  "Ekklésia Christiana" Qui Dez 08, 2011 11:19 am





A QUESTÃO DE GÊNERO NA CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL

Janaína da Silva*



Resumo: A Congregação Cristã no Brasil (CCB) é a mais antiga denominação pentecostal do país, onde
está prestes a completar 100 de seu surgimento pelo italiano Luigi Francescon, nos levando a refletir
sobre o papel desempenhado pela mulher no seio congregacionista neste um século de sua existência.
Entendendo que preservam e praticam em pleno século XXI conceitos estabelecidos em sua fundação em
1910, o presente estudo objetiva a compreensão de uma abordagem acerca do gênero feminino nesta
denominação religiosa e suas respectivas contribuições, tendo como método um análise crítica desse
processo histórico e religioso, através de observação participante. Assim, compreender os mecanismos
que a mantêm em sua mesma identidade do início do século e o papel feminino é um desafio e ao mesmo
tempo intrigante.


Palavras- Chave: Gênero; Pentecostalismo; preconceitos.


Introdução


Neste meu estudo referente à compreensão da mais antiga denominação
pentecostal do país e da América latina, torna-se imprescindível a análise acerca da
mulher dentro do movimento congregacionista. É muito evidente a diferenciação
existente entre o homem e a mulher na igreja, quando nos referimos em ministérios1 de
dominação exclusiva de leigos do sexo masculino que busca sua fundamentação na
bíblia sagrada.

Primeiramente antes de entrarmos na questão do papel da mulher dentro da
Congregação Cristã é importante salientarmos o que atualmente costuma-se discutir
sobre “Gênero”, o que significa essa distinção fundamental de feminino e masculino, o
próprio movimento feminista e suas respectivas identidades.


A questão de Gênero

O feminismo vai constituir na história da mulher o grande marco em sua
existência impregnada de mecanismos de discriminação tanto sociais quanto culturais.
A mulher atualmente possui um certa autonomia, pois vota, participa de movimentos

políticos e a vida pública, em termos de teoria possui os mesmos direitos que o homem
conquistados na era Vargas e consumados oficialmente com a grande constituição
brasileira de 1988.

Desde o século XVIII na Inglaterra discute-se a ideia de que as diferenças entre
A mulheres e os homens não provem da natureza e sim da educação diferente
direcionada aos dois sexos que diferem em sua totalidade, o que nos leva a indagar que
o acesso da mulher a instrução deveriam prepará-las à maternidade, a esposa fiel e
obediente, conceitos estes pautados em pensamentos machistas, discriminatórios que
menosprezavam as mulheres.

O movimento feminista irá surgir como nova forma de dar voz política a mulher,
questionando sua posição na sociedade, seu papel enquanto cidadã, mãe, profissional ao
longo da história em suas conquistas e fracassos. As mulheres buscam em seu papel na
sociedade algo que a revolução francesa em sua abrangência de conceitos possibilitou
em certa medida aos homens franceses a liberdade, igualdade e fraternidade. A
igualdade está na representação nos diversos sistemas políticos, que se traduz no acesso
ao poder de dominância masculina. Por sua vez Bueno & Philbert (2008) nos coloca
que o feminismo não procura renunciar à criação, mas, procura uma maneira da mulher
poder realizar-se em sua maternidade sem renunciar em seu sucesso profissional.
Dessa forma a palavra feminismo aparece primeiramente na língua francesa em
1837, que segundo dicionário (Larousse Cultural apud Bueno & Philbert, 2008) é um
movimento pela melhoria e extensão do papel e dos direitos da mulher na sociedade e
luta contra o sexismo.

Entretanto de acordo com Alves & Pitanguy (1984) é difícil estabelecer um
definição precisa do que seja o feminismo, pois o termo traduz todo um processo que
tem suas raízes no passado, que se constrói cotidianamente e que não tem um ponto
predeterminado de chegada.

Percebe-se que para uma maior compreensão é necessário entender os múltiplos
contextos em que a mulher está inserida e os estímulos a que está suscetível. A primeira
e mais influente feminista na história Simone de Beauvoir, esposa de também de uns
dos maiores intelectuais franceses, Sartre, sustentava em suas análises que se as
mulheres eram consideradas inferiores aos homens não o era por questões de
nascimento e sim por se voltarem inferiores depois de um doutrinamento cultural
disfarçado de determinismo biológico.

Por sua vez percebemos que na filosofia a diferença de sexos é a primeira das
diferenças, aos quais todas as demais diferenças se fabricam e se expressam (PRIORE,
1997).

Diante disso verificamos tal comportamento em pensadores como Aristóteles,
em que sua justificativa para a escravidão era uma naturalidade que lhe soava incerta,
mas enquanto a sujeição das mulheres soava-lhes evidente (PRIORE, 1997).
Vale ainda ressaltar filósofos como Rousseau ajudou alimentar um discurso de
uma educação moral às mulheres as afastaria do acesso ao conhecimento e o exercício
de sua razão, pois uma educação que imporia limite à vontade desenfreada, de uma
criatura insatisfeita que era a mulher, onde podemos compreender a insistência do
filósofo Hume em querer impor a castidade feminina, tais pensadores partilhavam da
idéia e afirmavam que tal como se faz com a natureza, era preciso dominá-las, adestrálas,
nos levando a pensar o sentido de objeto e animal doméstico direcionado a figura da
mulher em séculos denominados da “Luzes” através das grandes teorias do
conhecimento proporcionada pela era moderna, mas imbricada em pensamentos
desprezíveis (PRIORE, 1997).

Dentro desse rol o feminismo é considerado historicamente vinculado aos
movimentos de esquerda, pois a mulher é o ser mais oprimido e humilhado pelo homem
(MACHEL apud Bueno & Philbert, 2008).

Nos partidos de esquerda as mulheres encontraram espaço para suas
reivindicações, pois precisavam de apoio e de colaboradores, porque buscavam a
conquista de seus direitos (TOSCANO & GOLDEMBERG apud Bueno & Philbert,
2008).

Nesta perspectiva o movimento feminista busca repensar e recriar uma
identidade de sexo sob uma ótica em que o indivíduo, seja mulher ou homem não tenha
que adaptar-se a modelos hierarquizados, onde as qualidades “femininas” ou
“masculinas” sejam atributos do ser humano em sua globalidade (Alves & Pitanguy,
1984).

Diante disso o movimento feminista não é um movimento organizado
politicamente, nem tão público, porque tem como meta afetar o cotidiano, mudando as
relações sociais estabelecidas e agregando de uma forma os direitos ao feminino (Bueno
& Philbert, 2008).

Assim, uns dos principais objetivos da luta das mulheres em seus direitos
políticos foi alcançar o direito ao voto, sufrágio universal, em que :
“O Feminismo tem sido, como movimento social, uma das
manifestações históricas mais significativas da luta empreendida pelas
mulheres para conseguir seus direitos. Apesar de a movimentação a
favor do voto ter sido um dos eixos mais importantes, não se pode
igualar sufragismo e feminismo. O último tem uma base reivindicativa
muito ampla que ,às vezes, contempla o voto, mas, em outras
ocasiões, também exige demandas sociais como a eliminação da
discriminação civil para com as mulheres casadas, ou o acesso à
educação, ao trabalho remunerado” (NASH & TAVERA apud
BUENO & PHILBERT, 2008).

Nessa linha de pensamento movimento sufragista marcou a trajetória do
feminismo, em que tais conquistas gerou um sentimento de “intromissão” da mulher no
universo masculino, o chamado papéis de gênero2 .

Tais conquistas da mulher na sociedade questionou aquele modelo de “Rainha
do lar”, o compromisso com a família e a educação dos filhos, uma ameaça a ordem
estabelecida pelo homem, dificultando sua aceitação pelo meio social.
Pensadores como John Stuart Mil (1806- 1873) colocou o direito ao voto um
conquista de fundamental importância para as mulheres, em que a solução da
subordinação feminina se situava justamente na trava legislativa discriminatória
(BUENO & PHILBERT, 2008).

De acordo com autoras as idéias de Mill tiveram grande influencia no
movimento sufragista britânico que se expandiu e se internacionalizou, onde no
parlamento inglês defendeu a favor do voto feminino. Desta forma o feminismo com
movimento político organizado de forma sistemática nesse período aconteceu de forma
diferenciada em cada parte do hemisfério, possibilitando trazer a tona reivindicações de
acordo com a moral e cultura especifica de cada nação.

Vale ainda ressaltar o apresentado por John Stuart Mill ao referir:
O principio regulador das relações atuais entre os sexos – a
subordinação de um outro – constitui um dos obstáculos mais
importantes para o progresso humano, devendo ser substituído por um
principio de perfeita igualdade que não admita nenhum privilegio pra
uns, nem a incapacidade para outros (John Stuart Mill 1806- 1873
apud BUENO & PHILBERT, 2008).

O direito ao voto foi concedido em períodos diferentes ao redor do mundo às
mulheres de acordo com seu momento histórico, em que por volta da década de 60 o
movimento feminista vivia seu auge em igualdade de direitos, liberdade civil, enquanto
no Brasil neste período encontrava-se no regime ditatorial militar.

O feminismo chega ao Brasil e demais países da América Latina em meio em
grandes regimes políticos ditatoriais, em suas falsas democracias, o que levaram as
primeiras feministas brasileiras questionar as diversas relações de poder existente entre
os “Gêneros” nos partidos de esquerda, lutando para que a dominação preconceituosa e
machista fosse diluída ou subsumida pelo tradicional discurso, no entanto muitas
feministas traziam como bagagem ideológica o marxismo, base essa que pensavam as
relações estabelecidas entre os sexos (RAGO apud BUENO & PHILBERT, 2008).
Nesta linha de raciocínio na década de 1980 as discussões de questões realmente
femininas possibilitou colocar em pauta assuntos mais íntimos como o corpo, a
sexualidade, a saúde da mulher e seus direitos enquanto trabalhadora na criação de
creches3 para abrigar as crianças das mães trabalhadoras durante seu período
empregatício.

O acesso às creches como tarefa fundamentalmente educativa e como um
direito da mãe trabalhadora é muito recente, que foi preciso um longo processo histórico
que possibilitaram mudanças importantes ao conceber a criança como um ser complexo
que tem desenvolvimento cognitivo, afetivo, lingüístico, social, além do físico-motor,
mas também como cidadã.

Percebe-se ainda que ocorreu neste período uma feminização da linguagem e das
ações também, usadas como armas na conquista da igualdade de direitos:
“Mais do que nunca, passaram a pensar em si mesmas sob uma ótica
própria, dando visibilidade ao que nunca antes fora escondido e
recusado, o que inevitavelmente levou à radicalização da
potencialidade transformadora da cultura feminista em contato com o
mundo masculino. Trata-se, então, não mais de recusar o universo
feminino, mas de incorporá-lo renovadamente na esfera pública, o que
se traduziu ainda por forças um alargamento e uma democratização
desse mesmo espaço” (RAGO apud BUENO & PHILBERT, 2008).
Contudo o período de 1975 à 1985 foi considerado a década da mulher em que
ocorrem como no Brasil os encontros nacionais das feministas, possibilitando a criação
de conselhos estaduais da condição feminina, nacionais dos direitos da mulher,
reivindicações estas que não mais serão toleradas como os preconceitos femininos e
etnias, em especial os afrodescendentes.

Porém, partindo da conquista pelos direitos mais básicos pela mulher como voto,
outras questões também colocaram em pauta como o direito ao aborto, em casos
extremos como os estupros, riscos de vida, esbarram em pontos até hoje muito
controversos, que geram acaloradas discussões, principalmente quando pautados em
análises de cunho religioso, tomadas como causas laterais, o movimento feminista
contribui sem dúvida alguma para que os direitos daqueles que estão em posições socais
desfavoráveis sejam dessa forma ampliadas e respeitadas (PINTO apud BUENO &
PHILBERT, 2008).

Feitas estas considerações é muito comum ouvir atualmente em vários meios de
comunicação comentários de que o movimento feminista desapareceu, muito pelo
contrário nunca esteve tão vivo, atuando desde o início do século apenas mudou de
configuração, o que não quer dizer que abandonou suas lutas diante das conquistas
alcançadas, colocando-se em pauta as denúncias referidas pelo feminismo atual como a
manipulação , a violência que o corpo da mulher é submetido, as diversas formas de
violências existentes, tanto a física, a psicológica, a moral ou simbólica que desvaloriza
seu sexo.

Entretanto o que se observa que o atual desafio enfrentado pelas mulheres seja o
campo ideológico, pois legitima essa diferenciação dos papéis na sociedade, buscando
igualdade em todos os sentidos, porque a denominação do feminino e masculino são
legitimações e criações da cultura.

Conforme propõe Alves & Pitanguy (1984) o movimento
“Trouxe a questão da assimetria sexual, fazendo uma análise da
produção e reprodução das ideologias e discriminações. Preocupando-
se com as formas de resistência desenvolvidas pelas mulheres em
diferentes culturas e que resultam muitas vezes no estabelecimento de
formas alternativas de exercício do poder”.

Com reflexões semelhantes percebemos atualmente na academia e entre a
grande produção bibliográfica dos pensadores muita referência termos como “Gênero”,
feminino e masculino, em que são termos de significações sociais.

De acordo com Guedes (1995) a definição de gênero é complicada porque além
de representar vários significados, agrega em seu bojo os sentidos mais amplos ligados a
caracteres estabelecidos convencionalmente, bem como atividades habituais decorrentes
da tradição, onde a lingüística nos coloca os significados como representações de
culturas dominantes.

Diante disto o dicionário eletrônico Aurélio Gênero é “A forma como se
manifesta, social e culturalmente, a identidade sexual dos indivíduos” e
gramaticalmente é “Categoria que classifica os nomes em feminino, masculino e
neutro”, desta forma Ferreira apud Guedes (1995) nos propõe a seguinte definição
“Categoria que indica por meio de desinências um divisão dos nomes baseada em
critérios tais como sexos e associações psicológicas”, referindo em suas análises
(SCOTT apud GUEDES, 1995) Gênero será: “Um elemento constitutivo das relações
sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos [...] o gênero é uma forma
primária de dar significado às relações sociais”.

Tal definição nos coloca a também buscar o significado de feminino e
masculino, diferenciação essa dada pela significação da palavra “Gênero”, nos
atentando para o valor social dado em seus mais implícitos valores.
Tomo de empréstimo a definição que o dicionário eletrônico Aurélio nos
proporciona ao dizer que feminino é “Relativo ao sexo caracterizado pelo ovário, nos
animais e nas plantas”, já o masculino “Diz-se dos nomes que pela terminação e
concordância designam seres masculinos ou como tal considerados”.
A colocação feita por Guedes (1995) expõe que se avançarmos a língua
portuguesa brasileira buscando sentido dos termos, iremos perceber que a língua reflete
a construção cultural do novo. Isso nos leva a pensar que nessa sociedade dicotomizada
em suas crenças, valores das mais variadas expressões que o significado de mulher
acaba sendo referido segundo Guedes como santa e reprodutora ou como prostituta.
Verificamos tais diferenciações de significados acima expostos pelo dicionário
eletrônico Aurélio que também define Mulher como “Ser humano do sexo feminino ,
após a puberdade, esposa”, para o Homem “Qualquer individuo da espécie animal que
apresenta o maior grau de complexidade na escala evolutiva; o ser humano; homem na
idade adulta; quando adolescente atingiu a virilidade”.

É muito evidente as diferenciações do termo Mulher e Homem, nos leva a
compreensão da construção social dessas significações, tradicionalmente estabelecidas
em que Guedes (1995) corrobora que a mulher ora tem o papel de meretriz ou
reprodutora, não possuindo outro papel social fora tais significados dispensados ao
gênero feminino.

Contudo, ainda para a autora essa diferença paradoxal nos significados designa
uma sociedade fundamentada em preceitos conservadores ainda muito presentes na
difusão do conhecimento, pois a lingüística enquanto ciência fundamentadora de
conceitos gramaticais tem muito a “evoluir” enquanto em discussões históricas, sociais
e culturais, fato referente por não ser seu foco científico.

Também é de parecer que a religião seja ela católica, protestante ou qualquer
outras manifestações religiosas, irá fundamentar a exclusão feminina por meio da bíblia
sagrada. A Congregação Cristã não fica imune a tais processos, pelo contrário é uma das
maiores defensoras frente a igrejas pentecostais clássicas da atenção as “Questões de
Gênero”, conhecida no meio protestante por conservar as mesmas características e
doutrinas, estabelecidas no seu surgimento em 1910, praticadas até os dias atuais.


A mulher dentro do movimento Congregacionista


Na Congregação Cristã observa-se uma celebração de cultos repletas de
significados e características de fundamentos bíblicos neste segmento do protestantismo
pentecostal clássico brasileiro.
A separação dentro do templo na realizações dos serviços litúrgicos (cultos) é
muito evidente. A começar pela utilização do véus brancos, todas com a cabeça coberta,
sentadas de um lado do templo, geralmente do lado direito e os homens do lado
esquerdo. Tal referência é citada na convenção de 1936 e ensinamentos de 1948 com
explicações bíblicas em relação ao uso do véu:
“Sempre que a mulher orar ou profetizar deve estar com cabeça
coberta; é necessário estar atenta para em nenhum caso ofender a
Palavra de Deus. Esta não se contradiz; a sabedoria do senhor não nos
deixou um estatuto imperfeito” (Resumo dos ensinamentos de 1948
pg. 24).

Observamos que obedecem ao que está escrito na carta do apóstolo Paulo em I
Coríntios, no capítulo 11 versículo 5:


“Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça descoberta
desonra sua própria cabeça, porque é como se a tivesse raspada”
(Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida, Brasília,
Sociedade bíblica do Brasil, 1969).



Paralelamente outras denominações pentecostais ou protestantes justificam tal
passagem bíblica na utilização do véu por parte da mulher como sendo contextos
históricos específicos de uma determinada época e região, mas que na Congregação é
valorizado e praticado de forma verdadeira, evidenciando frente outras instituições
religiosas uma submissão feminina indiscutível.

A posição da mulher para que exerça algum ministério eclesiástico é muito
recente, pois mesmo outras denominações religiosas como o catolicismo e até mesmo o
protestantismo em períodos anteriores a não participação feminina, mas que atualmente
por ter conquistado espaço como por exemplo na Assembléia de Deus está ocorrendo a
ordenação de pastoras, algo de uns 10 anos atrás seria uma impossibilidade.
Desta forma a mulher ainda tem um papel de subordinação e impedimento em
alguns ministérios na igreja, evidenciado em um estatuto de 1968, eis o seu teor:
“Onde o senhor determinar , serão ordenados Diáconos, da mesma
forma que os Anciãos, de acordo com Atos 6:6, os quais atenderão a
parte da piedade, juntamente com os irmãos e as irmãs que Deus
preparar para cooperar com eles no mesmo ministério. Onde Deus
ainda não levantou Diáconos e houver necessidade, a parte da piedade
poderá ser atendida por irmãos e irmãs preparados por Ele e que tudo
farão de comum acordo com os Anciãos ou Cooperadores do ofício
ministerial local” (Estatuto da Congregação Cristã no Brasil de 1968
pg. 281).

Percebe-se que as mulheres são relegadas a uma atuação secundária, onde o
ministério que efetivamente executam é a piedade4, o ministério de auxiliar5 também,
mas nesse caso em especial é as irmãs jovens que ainda não teve o matrimônio.
Outro aspecto importante ministério na igreja é participação musical, na
orquestra através de tocar o Órgão, que para isso requer uma dedicação ao ensino e
aprendizagem da música por meio de irmãs devidamente nomeadas pelos anciãos com
formação musical ao ensino das “Irmãnzinhas”, baseado no método italiano de Paschoal
Bona, lições musicais de piano, e aprendizagem dos “Santos Cânticos” através do
hinário composto de 450 hinos, incluindo de santa ceia e funeral, cantados apenas em
tais cerimônias especiais.

Para dar início a tocar o instrumento na igreja precisa-se realizar o exame
musical, feito pela examinadora que avaliará sua aptidão a tocar nos cultos. Tais exames
(Testes) se passa por uma etapa que consiste de no primeiro ser de “Meia Hora” , é um
teste para que a irmã esteja apta a tocar antes do início do culto aquele hino lento,
harmônico, que gera a “Comunhão” entre a irmandade, que tem como pré-requisito a
dominância de 100 hinos do hinário, o segundo é para o “Culto de Jovens” para tocar
nos cultos de jovens e menores que compõem 50 hinos do hinário, o terceiro é para o
“Culto Oficial” onde irá tocar em qualquer culto que é realizado à noite, está na
aprendizagem de mais 300 hinos e o último é o de “Oficialização” onde a irmã está apta
a tocar em qualquer Congregação do país e do mundo, pois completou o ciclo de
estudos musicais que é a dominância dos 450 hinos compostos no hinário da
Congregação Cristã.

Com reflexões semelhantes a atuação feminina está em dar testemunhos, não
podendo assumir o púlpito na celebração do culto, pode orar em voz alta, quesito este
fundamentado no seguinte trecho bíblico :

“A mulher aprenda em silêncio, com toda submissão. E não permito
que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o marido;
esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois
Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em
transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe,
se elas permanecerem fé e amor e santificação, com bom senso”
(Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida, 1ª Carta de
Paulo Tm. 2. 11- 15, Brasília, Sociedade bíblica do Brasil, 1969).

Vale ainda ressaltar que a “Irmãs da piedade” acima já explicitado exerce um
papel fundamental, pois percorrem as residências da irmandade levando informações
aos irmãos do ministério sobre as necessidades quando surgidas no seio do “Povo de
Deus” e também são as primeiras que tomam o conhecimento em primeira mão de todos
os acontecimentos, sejam eles bons ou ruins da irmandade, desde os pecados
“Imperdoáveis” como a fornicação, o adultério, considerados de alto grau e de uma
seriedade inquestionável, cuja penalidade é o afastamento incondicional da liberdade na
igreja.


Considerações Finais

Portanto, tratamos de analisar umas das questões mais controversas na religião
que é a discussão de gênero, a mulher em especial na Congregação Cristã gera muitas
discussões e análises que não se esgotam por aqui, visto que os aspectos dos costumes,
os ritos e aceitação da mulher de forma passiva não foram feitos em profundidade, mas
que possibilitam estudos futuros mais detalhados e de questões teológicas mais
exploradas.


NOTAS


* Bolsista de iniciação Científica da Fundação Araucária - UENP/FAFIJA
1 A palavra ministério dentro da congregação corresponde aos cargos eclesiásticos em outras
denominações, como por exemplo ser Diácono, Presbítero, Ancião entre outros.
2 Será amplamente discutido mais a seguir no trabalho, onde irei abordar as várias significações sociais
dispensados ao termo “Gênero”.
3 A palavra CRECHE tem origem francesa que significa “Manjedoura’ de referência ao menino Jesus em
seu nascimento. Atualmente do ponto de vista teórico, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB),
mudou seu antigo enfoque assistencialista das creches a uma instituição educativa que contribui para a
formação da criança enquanto sujeito histórico e responsável pelo seu desenvolvimento, determinando a
inclusão da faixa etária de zero a três anos, como parte da educação básica. Tendo neste sentido mudado
seu foco de simplesmente guardar a criança para o de cuidar e educar de forma indissociável.
4 Obras da piedade na Congregação Cristã é um grupo (comumente) de irmãs que visitam a irmandade de
forma geral, verificando suas necessidades. Reúne-se a fim de julgar as necessidades urgentes da
irmandade, auxiliando em roupas, alimentos, móveis, e não raro em dinheiro para suprir suas
necessidades financeiras, superando suas dificuldades.


Referências Bibliográficas


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Editora Brasiliense, 1984.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Tradução de Sérgio Milliet. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1980.
BERGER, Peter Ludwing. O Dossel Sagrado. São Paulo. Paulinas, 1985
BUENO, Sônia Villela, PHILBERT, Larissa Angélica da Silva. A Conquista das
Mulheres dos Tempos de Hoje. In: CONGRESSO DE EDUCAÇÃO PREVENTIVA
EM SEXUALIDADE, DST/AIDS, DROGAS E VIOLÊNCIA: RESGATANDO UMA
FORMAÇÃO INTEGRAL E HUMANISTA, 6, 2008, Ribeirão Preto. Anais do
Congresso. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP.
CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL, Relatório, Edição 2002. São Paulo,
GUEDES, Eunice Figueiredo. Gênero: O que é isso. Rev. Imagens do departamento
de psicologia da UFPA. p. 04- 11, 1995.
NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. 3 ed., Editora
Positivo, revista e atualizada do Aurélio Século XXI, O dicionário da Língua
Portuguesa, Regis Ltda, 2004.
PIERUCCI, Antônio Flávio. As Religiões no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
2005.
PRIORE, Mary Del. História das Mulheres: As vozes do silêncio. In CARDOSO,
Ciro & VAINFAS, Ronaldo (org) Domínios da História. Ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1997.
Resumo da convenção realizada em Fevereiro de 1936; Reuniões e Ensinamentos
realizados em Março de 1948; Pontos de Doutrina e da Fé que uma vez foi dada aos
Santos; Histórico da Obra de Deus, Revelada pelo espírito Santo no Século Passado;
Mensagens. São Paulo, Augusto, 2002.
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