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A Doutrina do pecado de Morte como fator de desenvolvimento de quadro depressivo nos membros da Congregação Cristã no Brasil (3ª parte)

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Mensagem  marcio ferreira Ter Jan 01, 2013 7:44 pm



A DOUTRINA DO PECADO DE MORTE COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DE QUADRO DE DEPRESSÃO NOS MEMBROS DA CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL

(3ª parte)


Quando ouvia as palavras que saia [sic] da boca do ancião que dizia a alma que
pecar esta morrerá então eu já me sentia morta (Entrevistado nº 6).
O principal motivo era vida reprimida pelo constante medo de pecar, pois pecar seria
perder a vida eterna ou em caso de recebido perdão pelo único oráculo mediador no
caso o ancião, seria uma espécie de membro de segunda classe, outro fator
interessante o membro depressivo carega [sic] uma áurea de santidade não
somente para ele, mas para outros menbros [sic] também, é uma vida de martíreo
[sic] e tristeza suplicada Entrevistado nº 11).
Durante minha infância/adolescência na referida denominação, entendi que Deus
estava pronto a me castigar por qualquer erro cometido. Nas reuniões de jovens, o
cooperador mandava toda a mocidade dizer: “A alma que pecar, esta morrerá”. A
sexualidade é tratada na CCB como maldição. Então, conversar sobre sexo ou
perguntar qualquer coisa sobre o assunto era pecado, e a masturbação também era
tratada como pecado imperdoável. Não só eu, mas muitos jovens da minha época
eram perturbados com a idéia de estar condenados ao inferno. Uma das garotas da
igreja “pecou” e virou alcoólatra, só para citar um exemplo. Mesmo depois de haver
saído de lá e me firmado em outra igreja, ao me casar descobri que estava
traumatizada a ponto de não conseguir ter relacionamento sexual saudável com meu
esposo. Embora tivesse chegado virgem ao casamento, não diminuiu meu medo de
perder minha salvação por causa do sexo. Confesso que quis morrer. Foi mais de
um ano de crise. Estou me recuperando pouco a pouco (Entrevistado nº 14).
Acredito que o motivo do estado depressivo dentro da igreja CCB foi devido as
pressões que eles faziam, “não pode isso”, “não pode aquilo” sempre focando que
Deus irá te castigar e também pela pressão familiar dizendo que se não
frequentasse iria para o inferno (Entrevistado nº 15).
Medo de desagradar a Deus (Entrevistado nº 20).
Pensava que se pecasse perderia a salvação (Entrevistado nº 21).
Ao final do questionário, foi facultado ao entrevistado transcrever livremente suas
observações pessoais. Dentre os depoimentos, alguns apresentam dados importantes para
a pesquisa:
Vale salientar que esse sentimento depressivo foi superado quando do
conhecimento da ciência e o distanciamento da religião (Entrevistado nº 1).
Embora não tenha me sentido deprimido, compreendo que se passar por esta
situação terei problemas em procurar tratamento especializado (Entrevistado nº 4).
Hoje, sou membro de outra igreja, me casei e continuo exercendo meu ministério de
música. Mas, para chegar aqui, o sofrimento foi grande. A CCB precisa
urgentemente mudar certas ‘doutrinas’, que são manipulatórias e abusivas, se não
quiser estragar mais os sentimentos e emoções de suas ovelhas (Entrevistado nº
14).
Alguns meses antes de sair da CCB me sentia oprimida, pois a vontade de sair de lá
era enorme, porém não podia devido a família ser apegada demais a religião.
Aguentei alguns meses e o ápice de minha saída foi quando ouvi pela última vez
que Deus iria colocar um câncer se cortassem o cabelo. Achava tudo isso um
absurdo e sai da igreja enfrentando a tudo e a todos. Nesta época eu estava bem
segura e sai da igreja desacreditada da existência de Deus. Comecei a criticar
qualquer tipo de religião e depois de 1 ano comecei a entrar em depressão
novamente, pelo fato de acreditar que não existia nenhum ser superior e que
estávamos neste mundo a toa. Nessa época conheci o ateímos [sic], agnosticismo,
espiritismo e depois de uma experiência com eu voltei a frequentar a igreja, mas não
a CCB e sim a Batista (Entrevistado nº 15).
Dentre as informações equacionadas pela pesquisa, chamam atenção os seguintes dados:
Setenta e um por cento (71%) dos entrevistados afirmaram ter sentido algum sintoma
depressivo durante o período de frequência na CCB; Cinquenta e quatro por cento (54%)
considera a doutrina do pecado de morte como agravante para o estado depressivo;
Nenhum entrevistado com depressão procurou ajuda da liderança da igreja; Apenas VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
18
dezessete por cento (17%) buscou ajuda terapêutica especializada; Cinquenta por cento
(50%) dos entrevistados considera que o sentimento religioso dificultou a busca pelo
tratamento especializado. Esses dados reforçam a tese de que o sentimento religioso possui
direta relação com o estado depressivo. Foram recorrentes os casos em que o entrevistado
relacionou seus sentimentos de angústia e tristeza com o medo da punição divina, do
pecado ou de ferir a doutrina seguida. O baixo percentual dos que procuraram ajuda
terapêutica profissional apontam para a dificuldade que o membro da denominação possui
em relacionar sua depressão com fatores fisiológicos, vinculando-os, na maioria dos casos,
a questões de cunho espiritual.
Conclusão
Ao longo de seu desenvolvimento, a CCB tem procurado estabelecer um claro afastamento
das demais denominações cristãs. A preocupação com o comportamento dos membros,
principalmente no que concerne as questões sexuais, tem sido marca distintiva da
denominação. Ao completar 100 anos de existência em solo brasileiro, pouca coisa foi
alterada em termos doutrinários. O rigor com que trata os pecados sexuais aponta para uma
hermenêutica particular com relação a alguns textos bíblicos, que tratam do pecado de
morte. Visitando documentos da denominação e depoimentos dos membros em sites de
relacionamento na rede mundial de computadores, foi possível verificar que, ao longo de
sua história, a CCB tem feito clara relação entre o pecado de morte e os pecados de
natureza sexual. Ao assimilar o escopo doutrinário da denominação, o membro passa a
viver a tensão entre seus desejos, ou os desejos da carne, e as exigências de uma vida
casta. Tal tensão é acentuada pelo fato de compreender que, caso cometa pecados dessa
natureza, sua vida espiritual chegou ao fim. Passa a ser considero pelo grupo como
“pecador de morte”, sem a possibilidade de alcançar o perdão divino.
Nesse sentido, o sentimento religioso do membro da CCB demonstra-se fator precípuo no
desenvolvimento de estados emocionais como tristeza, apatia, angústia e melancolia,
desencadeando a depressão. O estudo de caso apontou para o baixo índice de membros
que procuraram ajuda terapêutica quando deprimidos, apontando para o fato de que o
sentimento religioso tem sido fator impeditivo para o diagnóstico e tratamento adequado do
problema, sendo este relacionado pelos membros, na maioria dos casos, com fatores
estritamente espirituais. Permanece assim a relação causal entre pecado, castigo divino e
depressão. Universidade Presbiteriana Mackenzie
19
Referências
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Contato: evandro_enops@hotmail.com e antonio.gomes@mackenzie.br

marcio ferreira

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